Como podem os conhecimentos construídos por um grupo acadêmico como o NECSO contribuir para recuperar e revigorar comportamentos e saberes generativos locais brasileiros?
Como podemos fazer entrar em cena construções de conhecimento que escapem dos enquadramentos disciplinares naturalizados?
Talvez surpreenda que Michael Christie e Helen Verran façam perguntas semelhantes a essas quando se colocam diante dos nativos australianos e respondam que o povo Aborígine Yolhu tem uma resposta inequívoca e pronta.
Para entender o que uma oficina com as autoridades de conhecimento Yolhu poderia oferecer em resposta, e o que seria único nessa resposta, dizem Michael e Helen, é preciso primeiro entender algo sobre as práticas de conhecimento Yolhu. Traduzindo/ transladando, aqui seria preciso entender algo sobre as práticas de conhecimentos populares no Brasil.
A maior parte do trabalho institucional envolvendo conhecimentos populares parece entendê-los como sendo da mesma ordem que o conhecimento ocidental. Conhecimentos populares, locais, são impensadamente aceitos como um tipo de conhecimento sobre o mundo, e sua verdade assim dependente da precisão da representação e da uma separação entre o social e o natural. Nesse tipo de conhecimento linguagem e categorias conceituais estão a priori separadas do mundo material real. Mas isso é muito uma característica da metafísica ocidental ortodoxa.
Michael e Helen vêem as hipóteses ocidentais sobre conhecimento e realidade como tendo de algum jeito colonizado e comprometido as compreensões autóctones e outros conhecimentos locais. Eles acreditam que a noção de multiverso ou de instituição pós colonial lhes dá uma boa oportunidade de explorar alternativas à representação, por exemplo, performatividade.
Michael e Helen imaginam um seminário ou uma série de oficinas em que autoridades de conhecimento Yolhu e participantes em esforços globalizantes de re-imaginar as ciências sociais e humanidades trabalham junto. Recuperar e revigorar as tradições generativas de formas locais de análise social e cultural seria o objetivo comum. Nós poderíamos, dizem eles, começar a articular práticas de conhecimento de um multiverso com foco em tarefas analíticas reais e localizadas focalizando, por exemplo, o problema público das doenças crônicas preveníveis.