INTRODUÇÃO
A manhã de sábado é tranquila e plena de sol, como o são quase todas
as manhãs de sábado dos verões de João Pessoa. Depois de haver tomado o
café, sento-me à minha mesa de trabalho diante do computador e antes de
iniciar o que chamei de "introdução" deste ensaio, dou uma olhada no
correio eletrônico, navego um pouco pelos principais jornais do país,
"visito" páginas científicas do meu interesse, consulto meu saldo
bancário.
Vou até à página da Puc, de onde recolho as últimas atualizações
sobre o congresso de semiótica. Finalmente retomo a introdução do meu
tema de trabalho, a revisar esse primeiro parágrafo.
Descrevera nele, a rotina comum de uma estudante de posgraduação, e
as interfaces usuais do início do século XXi, em que o computador
tornou-se uma ferramenta rotineira. O que me surpreende porém, e me
emociona,é o fato de eu ser uma pessoa cega, que ao lado de todas as
pessoas cegas das chamadas "culturas letradas", tem sua história
"evolutiva", do ponto de vista da sua inlusão nessa cultura "letrada"
comprimida em um lapso tão curto de tempo.
Pois é certo que a história da "alfabetização" desses indivíduos, ou
por outra, a estratégia que provocaria um "salto de qualidade" no
processo de refinamento e especialização do sentido do tato como um
canal privilegiado para a percepção das pessoas cegas não completou
ainda duzentos anos.
Mas esse lapso de tempo só ganha importância se for apreciado não do
ponto de vista da datação fria dos calendários e da história
tradicional, mas antes, se estiver aliado à própria história da evolução
da espécie humana no planeta. (.......)
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