cronicas de Minha Autoria.


As Aventuras Do Bruxo Do Recife

O que dizer das experiências?! De quantas tive, não abriria mão de nenhuma. Estava eu no primeiro ano da faculdade quando comecei a trabalhar e, por essa razão, perdi o direito a generosa acolhida do "Casarão da Praia Vermelha". Foi assim que tive contato com um meio alternativo de moradia "as vagas", que já ouvira falar. Era na rua Gastão Bahiana, paralela a Miguel Lemos, esquina com Barata Ribeiro, em pleno coracao de Copacabana. Esta rua, apesar de ser de classe média alta, é uma ladeira que desce do morro Corte do Canta galo, desembocando no centro nervoso da "princezinha do mar". Fui morar no apartamento de uma senhora viúva, que vivia com sua família: uma filha ( mãe solteira, que tinha o pequeno Leandro de um ano); um filho( desquitado, que trabalhava como gerente num hotel tradicional do RJ); outro filho ( que trabalhava como mensageiro do mesmo hotel). O apartamento tinha dois quartos( um dos quais, era a chamada " vagas alugaveis ") . Tratava-se, de quatro camas, num quarto de tamanho médio, que tinha ainda, uma janela para a rua, um armário embutido( compartilhado pelos "vaguistas"); os "vaguistas" tinham ainda a permissão de usar o único banheiro da casa. Foi aí, que comecei minha vida de " homem independente", senhor do meu "nariz", responsável direto por minha existencia. O que mais ficou marcado nesta experiencia, era o rodízio existente nas pessoas que ocupavam as vagas; as vezes saia para o trabalho, deixava tres caras, quando voltava já não eram os tres; nos seis meses, que morei desta forma, foram no minimo uns cinquenta sujeitoss. A primeira configuracão: tinha eu ( estudante de administracão, trabalhando em informatica); o Toni (um escurinho paulista, que trabalhava com material eletrico); o Álvaro (um amazonense, estudante da Gama Filho, que trabalhava no inps); o Luiz (um paraense, que trabalhava no Bradesco). Um dia naquela casa, com certeza , deixaria os produtores de: " Carlito", " o Gordo e o Magro", " os irmÃos Max", e outros, cheios de idéias. Fiz logo amizade com o Toni, um cara limitado, mas, boa gente; passamos a frequentar: praias, bares, restaurantes, enfim, conhecer intimamente os "segredos" da cidade maravilhosa. O "black" era saopaulino doente, adorava Jorge Ben e Martinho da Vila, dizia que o sonho dele era conhecer aqueles caras. O Álvaro(um botafoguense doente) e o Luiz(flamenguista roxo), mantendo uma tradicÃo historica(aAazonas x Pará), não se davam bem; várias vezes, acordei com os dois saindo no tapa, bem na minha cabeceira; a peleja so acabava, com a intervencão da dona da casa. Duro era de manhã, a concorrencia pelo único banheiro, nunca sofri tanto em minha vida; um dos filhos da dona da casa, tinha a mania de "engomar" os cabelos naquela hora, simplesmente esquecia da hora, enquanto nós alí, louco por um banheiro. Os tres filhos da senhora, nao se entendiam, estavam sempre em atritos, ficavam " fulos da vida" com a velha pela idéia das vagas. O pequeno Leandro, tinha mania de esconder-se dentro do nosso armário embutido, várias vezes, ao abrir a porta que me cabia, lá estava o "garotinho", que corria rindo; esta é a melhor recordacão daquele tempo, sou louco por criancas. Mas, a vida continuava, com ela o rodÍzio das vagas na Gastão Bahiana. O Álvaro, um cara meio esquentado, mas legal, foi o Único que ficou os seis meses comigo. Um dia, sexta-feira a noite, saimos todos, eu e o toni rodamos por uns bares, voltamos e fomos dormir; acordamos pela madrugada, com acasa transformada num verdadeiro "pandemonio" ; mãe e filha, gritando a todos pulmões: - "quem fez aquela desgraca no banheiro?!" Silencio absoluto. As duas continuavam: - "queria ver se o " Floriano" e o " Neto" tivesse em casa!". O silencio dos vaguistas, era tanto, que dava para pegar com as mãos. No outro dia, apertamos o Luiz, que confessou: " nao era bom de bebida, naquela noite, tinha se excedido com uns amigos nos bares, e, o banheiro da mulher, virara aquela possilga. (...) Nas vagas, continuava um cara atras do outro, lembro-me do Vanuti, um estudante de violao-celo, filho de uma rica famÍlia mineira; vanute -que ficou muito meu amigo -, para desespero da famÍlia, largara o curso de direito para estudar musica. tinha a mania de interpelar a "desajeitada mãe solteira", questionando o método utilizado na educacão do pequeno Leandro; isto a deixava fula da vida. (...) Um dia, conheci lucio, um arquiteto gohiano que veio trabalhar no metrô, ficamos muito amigos. Numa noite de sexta-feira , fomos ao Barril (atualmente bar Garôta de Ipanema), disputar chop( Corinthians x Botafogo); saimos do bar as tres da manhã, caia uma chuva fina, os dois contendores bastante " mamados", na esquina da Gastão Bahiana, Lúcio que muito mal se equilibrava nas pernas, impacou; coloquei suas mãos em meus ombros, e, comecamos a subida rumo ao número "151"; foi quando de um "buteco", um " notivago" gritou: - "olha la, um " cego", carregando um " bebado", que loucura rapaziada!!!". A gargalhada foi geral. No outro dia, o Lúcio simplesmente nao lembrava de nada. (...) O mais " excentrico" de todos, foi um cara bahiano, que encontrei um dia quando cheguei da faculdade. chegara de Salvador, para estudar " educacao artistica", de pronto se identificou comigo, so me chamava " Bruxo do Recife". O meigo, delicado, terno Valério, adorava caitano e gil , odiava gau e betania, achava João Gilberto um chato, Jorge Amado um mercenario, tinha loucura pela Portela, mas, a paixão da sua vida era a Dalva de Oliveira. Não foi dificil para mim perceber que aquele filho da "boa terra", trazia uma " franga inrrustida", a qual queria soltar na cidade maravilhosa, entre as montanhas e o mar, em plena "côrte tupiniquim". O diabo e que o cara parou na minha, o que pensei ser uma amizade, tomou um rumo inesperado. Um dia no restaurante Amarelinho, o cara confessou-me ser "gay", e, tinha atracão pelo "desconhecido", nunca tinha tranzado com um "cego" e, adoraria ... comigo. Fiquei sem acão, mas, consegui diblar a "fera" num papo muito humano. O cara era persistente, e constantemente, se insinuava para cima do " Bruxo do Recife", que sempre adorou foi aquilo, que CERTO poeta popular chamou de: "o concavo no convexo". Mas, desvencilhar da " fera bahiana", foi uma luta titÂnica. As vezes estava deitado de cuecas, tranquilo, ouvindo rÁdio, quando chegava o "Soteropolitano ", e pegava, bem no meu, ..., " músculo do amor supremo"; segurava, acariciava, esticava, durante algum tempo, e, o " bruxo", alí, quietão, chapadão, envolvido numa coisa chamada " conflito existencial". Depois a " peste" desligava meu rádio, tacava u beijo na minha testa, dava uma risadinha safada, em seguida, cantarolando uma cancão da Dalva de Oliveira(Abajur Lilás), saia requebrando pelo quarto. E o " Bruxo do Recife", alí, bem alí, completamente imóvel, com a cabeca a mil. Um dia cheguei da faculdade, a dona da casa falou-me de forma laconica que o bahiano tinha ido embora. Noutro dia cheguei como de costume, enquanto jantava, a DONA DA CASA AVISOU-ME A QUEIMA roupa: que A FAMÍLIA se mudarIA amanhà cedo, e, que ela IRIA sentiR muito MINHA FALTA, E, ABRACOU-ME emocionada... Valdenito de Souza Rio de Janeiro, abril de 1996


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