ENTREVISTAS SELECIONADAS .


Entrevista de Monteiro Lobato em 1947

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Os impérios são como goiabas 18/05/2003

Numa formidável entrevista de 1947, Monteiro Lobato, tradutor do ultraimperialista Rudyard Kipling e talvez o mais americanista dos escritores brasileiros, faz o interessante e saboroso prognóstico que transcrevo a seguir: " Lobato: Estamos sendo contemporâneos de outro fenômeno histórico de maior importância: a rápida formação do Império Americano, o qual vai substituir o Britânico na missão civilizadora e construtora do mundo. Pergunta: Mas o surto desse novo império não será uma calamidade? Lobato: Por que, meu caro? Por que, se é por meio de impérios que o mundo se civiliza? O Império Romano não foi uma calamidade para o mundo, embora muitas vezes o tenha sido para os povos que lhe sofreram a dominação. E o Império Britânico foi um maravilhoso instrumento civilizador, embora os ingleses, muito naturalmente, cobrassem um alto preço pelo seu trabalho. Quem trabalha de graça? Pergunta: E agora vem o Império American o? Lobato: Sim, é uma injunção da Fatalidade Histórica. Vem, crescerá, se desenvolverá tremendamente; depois entrará em decadência e morrerá, como está morrendo o britânico. E meus votos são para que o Império Americano tenha a linda morte que está tendo este. (...) Pergunta: Acha possível então que um império formado com os imensos recursos dos americanos possa chegar ao fim e deixar que surja outro? Lobato: Os impérios são como as goiabas: desenvolvem-se já com o germe dos bichinhos dentro; à proporção que crescem, os bichinhos também crescem e se multiplicam, e um dia a goiaba, minada pelos bichinhos, cai e se dissolve no chão". (Em "Conferências, Artigos e Crônicas", ed. Brasiliense, 1959, págs. 319

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