LITERATURA DE CORDEL.


COMO DEVEM ME CHAMAR

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COMO DEVEM ME CHAMAR

Neste tempo que vivemos Pus-me um dia a refletir. Na forma que a população Adota ao se dirigir às pessoas diferentes, Às vezes, me ponho a rir. Lá pelos anos cinqüenta Não sei se em Minas Gerais, Nomearam os mais diferentes Como excepcionais Criaram uma associação, Que hoje são as APAEs. Não tinham voz e nem vez, Nesse tempo os diferentes. Eram como criancinhas Chamadas deficientes. Sua vontade não valia, Nem seus desejos ardentes. Mas, quem mandava então? Eram só os professores, assistentes sociais, Eram os fisioterapeutas, os técnicos especiais, manipulando a vida Dos ditos excepcionais. Esse jugo levou tempo E ainda hoje perdura! Claro que evoluimos Mesmo alluta sendo dura, Já vemos deficientes Mandando na Prefeitura! Correram os anos sessenta, E veio a integração. Os alunos diferentes, Tinham acesso à educação Em classes especiais, Mas não recreavam não. Em meio aos anos setenta, Houve uma revolução. A ONU deu uma ajudinha Pra esta transformação Nos deram oportunidade pra que entrássemos em ação. O ano de oitenta e um, foi o marco inicial Agora nós já não éramos Tidos como excepcional. Deficiente era o nome mais corriqueiro e normal. Em outubro daquele ano, Em Recife houve um Congresso. Mais de mil deficientes! Isso aqui foi um sucesso! Depois disso registramos, Muito avanço e progresso O ano de oitenta e oito Não podemos esquecer O ano da constituinte Mudando a vida pra valer Até o nome da gente Pode um acréscimo receber. Nós éramos deficientes, Como aqui já foi falado. Mas a Constituição, Nos pôs um termo agregado: Portadores de deficiência, Eis aí o resultado. Não pararam por aí, Os muitos termos que temos. Nos veio a LDB Com a educação que vivemos Herdamos expressão nova, Que as vezes nem entendemos! Somos pessoas portadoras De necessidades Especiais Foi o que a LDB Definiu para estes tais Aqueles deficientes E as PPAHs. Que são PPAH's? Meu Deus, que dificuldades! São pessoas portadoras de altas habilidades, No Brasil, sei que há poucas, Morando em nossas cidades. Vieram os anos noventa E com eles, a inclusão. tem que haver um compromisso Também da educação. É uma cultura nova Que não sei se pega não. Agora, ultimamente, A Prefeitura e o Estado Fizeram sutil mudança No termo que é adotado. Em vez de portadora, com, Eu acho mais adequado. Por fim, afirmo a vocês, como devem me chamar? Chamem-me de cidadão, Que assim muito certo está. Respeito, isso é coisa boa Pra quem recebe e pra quem dá.

Autor Desconhecido

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