Projeto DOSVOX


Sabor do Saber.


BREVE BIOGRAFIA DO AUTOR DESTA PÁGINA.

 


      Hoje, com 46 anos de idade, estou redescobrindo o valor dapalavra sonhar. Viajo na poesia que vivi na dor, e vibrando com os eternos gritos de vitórias, estou aprendendo que só os poetas conseguem falar que são vitoriosos, e o conseguem pelo simples fato de que, não dispondo de nada para viver, brincam de sonhar e salvar o mundo. Agora com 46 anos de lágrimas e risos, aprendi a ler poesia. É claro que não tenho a pretensão de ser poeta, mas a vida sempre me ofereceu um poema.

      Meu nome é Sivaldo Ribeiro dos Santos, nasci no Galho da ponte, interior deJanuária, Minas Gerais, aos 07 de outubro de 1968, e tenho 5 por cento de visão, desde o terceiro mês de vida. No princípio, foi um grande choque para meus pais. Tal fato exigiu deles uma força sobrehumana, uma vez que Eu era o primeiro de uma série de 5 irmãos com deficiência visual, vítimas de catarata congênita. E eles foram muito fortes, pois, além de conviver com a pobreza que era extrema, souberam cuidar, com muito amor e humor, da grande cegolândia que é minha família, de José, que nasceu sem a deficiência visual, além de conviver com a perda de sete filhos. (Com painho e mãinha, descobrimos que o sorriso pode ser remédio contra a fome). Com eles também aprendemos que, na batalha, o último grito de vitória tem que ser o nosso.

      Quando eu tinha 7 anos de idade (1975), a pobreza nos mandou embora da roça. Realmente, a roça não nos oferecia nenhuma condição de vida. Mudamos para Januária, o que foi infinitamente melhor porque, mesmo morando em um barracão de lona preta, nas mangueiras,conseguíamos, com nossa música matuta,garantir comida para toda a família. Nossa infãcia foi, como qualquer outra infância, marcada por lágrimas e risos: por perdas e ganhos.

      Em 1976, um médico influente em Januária (Dr Alsir de Matos), nos encaminhou para Belo Horizonte,Ccom a finalidade de conseguirmos "tratamento para a visão". No Abrigo Belo Horizonte, Mãinha ganhou Janaína e nós fomos submetidos à cirurgia.

      Ao chegar 1981, sem conseguirmos uma melhora considerável na "visão", voltamos para Januária. Em 1983, perseguindo uma vida melhor, mudamos para Montes Claros. Aqui, cantamos por um tempinho na porta do Banco Bemg. Em 1984, matriculamo-nos em uma sala de recurso. Foi uma festa. O contato com o lápis de cera, o ato de encostar o rosto no papel para tentar descobrir as palavrinhas ampliadas com pincel atômico, apesar da irritação nos olhos e no nariz, nos encantava de verdade.

      Felizmente em 1987, já na terceira série, descobri o braille. Foi minha liberdade: fugi da escola e fui ler por conta própria. Eu varava noites lendo. O primeiro livro que li foi "Do contrato social" de Jean Jacques Rousseau. Fiquei doido, mesmo sem entender direito o que ele dizia, até por não ter lido outras coisas antes. Posteriormente, li "das leis e outros escritos" de DCícero. Meu destino estava traçado. Eu ia fazer filosofia e direito.

      Ao chegar 1993, Depois de passar por um teste de sondagem no CESU (centro de ensino de Supletivo 1995, e também depois de submetido a um teste de seleção, matriculei-me no Núcleo de Ciências Agrárias da UFMG para fazercurso técnico em agropecuária. Como o curso tinha prática agrícola e castração, decidi que não era o meu curso. Em 1996, Cursei Supletivo segundo grau.

      Em 1997, prestei vestibular para filosofia e passei no segundo lugar. Como na época a Superintendência Regional de Ensino não havia liberado o resultado das provas de matemática, física, química e biologia, tive que ir a Belo Horizonte, para ser avaliado nas referidas matérias. Fui aprovado, mandamos um fax para a Unimontes, com o atraso de duas horas. É claro que a comissão de vestibulares não aceitou. Entramos com recurso, e, sob liminar, matriculei-me na Universidade Estadual de Montes Claros. 6 Mêses depois, acatando recurso da Universidade, um juiz suspendeu minha matrícula. Foi um momento muito complicado para mim. Eu estava estudando e me preparando para interpretar um delicioso papel no filme: outras estórias, produzido por Pedro Bial. Narrei o Conto SOROCO, SUA MÃE E SUA FILHA, de João Guimarães Rosa (o filme se encontra nas locadoras). Eu havia prometido a mim mesmo que, só voltaria para a universidade se minha classificação fosse superior à primeira. Pronto! Prestei exame vestibular novamente, passei no primeiro lugar. Aí ninguém me conseguiu tirar a vaga na universidade!

      De lá para cá, tudo foi só alegrias e vitórias. de 2001 a 2006, Trabalhei no Colégio Marista São José, como professor deEducação Religiosa. coordenei, de 2004 a 2008, Na Secretaria Municipal de Educação, o Programa Educação Inclusiva. Atualmente, trabalho no Centro de Atendimento Pedagógico às pessoas com Deficiência Visual, como revisor de textos Braille. Na Universidade Estadual de Montes Claros, sou voluntário do Programa Idade da Prata. tais ofícios me rendem muita alegria e encantamento, pois, além de trabalhar com a terceira idade, estou realizando um lindo sonho, que é proporcionar àsPessoas com deficiência algo que minimize suas dificuldades, no que se refere ao acesso a recursos que, infelizmente, não pude contar na minha vida estudantil. Agora tenho a chance de ajudar a promover a verdadeira inclusão da pessoa com deficiência visual nas escolas regulares.

      Depois que conheci o dosvox e outros leitores de tela, softwares específicos que nos ajudam a navegar pela internet e Windows, estou aprendendo a conquistar um novo mundo. Uma das minhas diversões é, depois de um dia de trabalho, participar de uma rica troca de idéiascom os muitos deficientes visuais que entram no chat da saci.

      Sempre militei nos movimentos sociais, literários e artísticos de Montes Claros. Militância essa que, em alguns momentos, adquiriu importância nacional. Fui membro da coordenação regional da FRATERNIDADE CRISTÃ DE DOENTES E DEFICIENTES - MINAS GERAIS, Participo da associação de deficientes de Montes Claros, Representei o movimento dos deficientes na Central dos movimentos populares, Participei, por 8 anos, do Conselho municipal de Saúde e, todo ano juntamos com um mundo de artistas montesclarences, em um show "PELO RESGATE DA ALEGRIA" Uma contribuição para a campanha "Natal Sem Fome".

      Portanto, esse contato com pessoas de várias partes do país acrescenta, e muito, à minha vida profissional e de militante. Hoje, com 46 anos de idade, não seria bobo de falar que, se fosse para recomeçar, eu recomeçaria tudo de novo. Mas aprendi , se for preciso, a gente encontra um jeitinho para continuar supervivendo, pois aprendi também que, quando a gente sonha muito, o infinito tem a distância de um grão.



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