Cap BH faz dois anos promovendo a inclusão escolar Edson Junior Quem for até a rua Tupis, 149, 7º andar, entrar no corredor à direita e depois na primeira sala à esquerda pode pensar que está em um ambiente de filme de ficção científica: logo ao entrar, o visitante vai encontrar computadores falando, em bom português, com seus usuários, enquanto estes usam o teclado para operar a máquina. Mas o que ali se passa é pura realidade. Os usuários desses computadores são pessoas com deficiência visual, que estão aprendendo a utilizar as ferramentas da informática na Escola de Informática e Cidadania (EIC), um dos braços do Centro de Apoio Pedagógico ao Deficiente Visual de Belo Horizonte (CAP/BH). Com dois anos de existência, completados na última segunda-feira, 22 de agosto, o CAP foi criado graças a uma parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte, o Ministério da Educação e a Associação Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais (ABEDEV). O principal objetivo do órgão é prestar assistência a alunos portadores de cegueira ou baixa visão matriculados em escolas públicas da capital. O CAP também assiste professores cegos que atuam na Rede Municipal de Ensino e disponibiliza alguns serviços para toda a comunidade de deficientes visuais da cidade, como é o caso da escola de informática. Através do atendimento das necessidades educacionais especiais dos alunos com deficiência visual, o CAP trabalha para mantê-los na escola regular, sem a necessidade de se recorrer à escola especial. A coordenadora do Centro de Apoio Pedagógico, Elizabet Dias de Sá, sustenta que a permanência dos alunos cegos e de baixa visão na escola regular contribui de maneira definitiva para a quebra do preconceito em relação ao que é diferente. "Eu costumo dizer que a grande esperança da construção de uma sociedade inclusiva está nas crianças, porque, tendo colegas com deficiência junto delas, será possível aprender desde cedo a conviver com essas diferenças", argumenta Elizabet. Para ela, essa possibilidade de convivência pode fazer com que, quando forem adultos, essas crianças não tenham dificuldades na relação com pessoas portadoras de deficiência inclusive no mercado de trabalho. Outro fator apontado pela coordenadora do CAP a favor da escola inclusiva é o geográfico. "Quando a criança tem que se deslocar para longe de casa até a escola especial, ela cria dificuldades para os pais, que têm que levar e buscar o filho na escola, além de perder completamente o referencial de vida comunitária, já que não vai frequentar a mesma escola que os seus vizinhos. Muitas vezes, o irmão que possui visão normal frequenta a escola do bairro e a criança com deficiência se desloca até o outro lado da cidade para estudar, o que causa grandes rupturas no ambiente familiar." Elizabet Dias afirma, no entanto, que essa consciência sobre a importância da escola inclusiva ainda não está solidificada nas mentes de alguns pais e educadores, sobretudo quando a criança tem perda total de visão. É por isso, segundo ela, que muitas famílias de crianças cegas procuram ainda o ensino especial. Como resultado, a maior parte dos alunos atendidos pelo CAP são de baixa visão. Elizabet Dias entende o trabalho com os alunos de baixa visão como um desafio ainda maior para os educadores, sobretudo porque há diferenças nos níveis de acuidade e campo visual, isto é, nem sempre o professor tem a idéia exata do quanto o aluno consegue enxergar. "Quando você lida com um aluno cego, não existe meio termo, já que a perda de visão é total. Já o aluno de baixa visão apresenta níveis diferentes de capacidade visual, o que gera dúvidas sobre como explorar o resíduo de visão que o aluno tem", explica a coordenadora do CAP. Ela acrescenta ainda que, em alguns casos, os alunos de baixa visão são tratados como pessoas de visão normal, outras vezes são vistos como cegos. "Às vezes, o aluno enxerga bem o quadro em determinados momentos e não enxerga em outros, por causa da intensidade da luz sobre esse quadro. Por causa dessa fotofobia, o aluno pode ser tido como desinteressado. Outras vezes, o professor interpreta a perda parcial de visão como cegueira e não procura estimular o aluno a utilizar seu resíduo visual." A coordenadora afirma, no entanto, que, graças ao trabalho do CAP junto aos alunos e educadores, essa mentalidade está mudando e os alunos de baixa visão estão recebendo o atendimento que necessitam. A principal demanda desse segmento é a confecção de material com fonte ampliada, demanda que o CAP consegue suprir de maneira satisfatória.