NEM TODOS DIZEM EU TE AMO |
Porém, é difícil encontrar alguém que saiba usá-la com uma
freqüência razoável. Ou essa frase é dita de cinco em cinco minutos,
banalizando-se, ou é dita de cinco em cinco anos, e ninguém agüenta
esperar tanto.
Você deve conhecer um casal assim: não desligam o telefone antes de
se afogarem em declarações: "te amo", "eu também", "diz a frase
completa", "eu também te amo", "te amo também". O amor é lindo,
portanto, perdoa-se tanto mel. Pior é quando o diálogo que vem antes é
completamente sem romantismo: "Luciana, você pegou a chave do meu
carro?" "Eu nem sei dirigir, Antônio" "Droga, vê se eu não deixei do
lado do cinzeiro" "Tem dó, Antônio, tô saindo de casa" "Custa você
me dar essa força?" "Não tá do lado do cinzeiro, já olhei" "E
embaixo da cama?" "Capaz que vou me ajoelhar pra olhar lá embaixo,
tô de meia-calça nova!" "Muito obrigado, viu?" "Irônico"
"Imprestável" "Vê se não me amola, tchau, te amo". Despedidas
mecânicas.
Um "te amo" dito por hábito perde todo o sentido, é só mais uma
frase, como "me passa o sal". Nada nos deixa mais carentes do que
ouví-la 500 vezes, como se estivéssemos namorando um papagaio bem
treinado. Minto: tem, sim, uma coisa pior. Não ouvir nunca.
Vocês namoram há um ano, transam, viajam juntos, ele devora você com os
olhos e nunca passou do "eu te adoro". A revista Capricho fez uma
reportagem sobre isso. Medo de comprometer-se, foi a conclusão.
Compreende-se, mas uma vezinha só não mata. O que eles pensam, que
serão transportados para um altar assim que terminarem a frase? Bobagem.
O máximo que essa frase consegue é nos transportar para as nuvens. Se
você ama alguém, diga, e não esqueça de apertar o cinto antes de
decolar.
Autora: Martha Medeiros
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