Crianças têm fome de quê? Quem sofre mais? As mães que têm filhos que não comem ou as que têm filhos que comem demais?





As mães dividem-se em dois grupos: as que têm filhos que não comem e as que têm filhos que comem demais. Deveria haver um terceiro grupo, a de mães cujos filhos têm uma dieta balanceada, rica em proteínas e que só comem na hora certa. Mas esse grupo ainda não foi fundado por falta de inscritos. Mãe nenhuma tem uma raridade dessas em c asa.

Sendo assim, concentremo-nos no problema. Qual dos dois grupos de mãe sofre menos? Julgue você.

A mãe cujo filho não come é candidata ao Oscar de atriz dramática. Ela faz chantagens, chora, esperneia, reza, implora, tudo isso para, no final, não conseguir nada. Seu filho segue desconhecendo o significado das palavras tomate, espinafre e pimentão. Para ele, chuchu é roxo e couve é vendido na floricultura. A última vez que comeu uma fruta foi quando tinha sete meses, uma banana esmagada. Suco de laranja, só se for de caixinha e vir com canudinho. Massa tem que ser sem molho. Bife tem que ser sem tempero. Galinha, só a coxa. Feijão, só o caldinho. Batata frita, só a do McDonalds. E encerrada a questão. Esqueça lasanhas, suflês, panquecas, frutos do mar. Pule para a sobremesa.

Sorvete: de creme, senão não. Iogurte? Tem que ter algum truque: congelar no palitinho, ser de tubinho, ter uma surpresinha. E tem que ser de morango, caso contrário pode vir a Eliana de brinde, em carne e osso, que ele não toma. Bolo? Se for de chocolate, sem nozes, sem creme, sem nata, sem cereja, sem fios de ovos, sem leite e sem farinha, ele dá uma mordida. Pudim? Pavê? Musse? Voltarão intactos para a geladeira.

Passemos para as porcarias. Cachorro-quente, ele venera, mas sem salsicha. Negrinho, sem granulado. Pirulito segue a regra do iogurte: de morango ou nem pensar. Biscoito, só o recheio. Misto-quente, sem presunto. Guaraná, só se vier um Pokémon.

Para as mães dos gordinhos, isso é música para os ouvidos. Não precisar negar comida para uma criança é uma bênção. Ao contrário das mães de esqueletos, elas são obrigadas a chavear a porta da cozinha, botar cadeado na geladeira e ter uma balança em cada aposento da casa. Seus filhos fazem 10 refeições por dia e ainda almoçam e jantam bem. Comem um boi inteiro no churrasco. Meio quilo de salada de maionese. Refrigerantes de dois litros descem pelo gargalo num único gole. E se acham subnu tridos.

No café da manhã, consomem dois sacos de bisnaguinhas. Na hora do lanche, um balde de milk-shake. No almoço, macarrão, mais uma galinha inteira, polenta, salada e um rocambole de doce de leite para rebater. À tarde, goiabada, sonho, churros. Noite: almôndegas, arroz, berinjela, suflê de queijo, pastel. Tudo com repeteco. E duas caixas de Bis antes de dormir. Anjinhos de 60 quilos.

Quem sofre mais, diga aí? Uns têm vitamina de menos, outros têm saúde demais. Uns não param em pé por causa do vento, outros não param em pé por força da gravidade. Mas todos têm, pelo menos, uma coisa em comum: mães que padecem nesse paraíso que é a sala de ja ntar.

martham@terra.com.br

21/1/2001 - Zero Hora


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