Amiguinhas da onça

Basta educarmos nossas filhas para não serem fofoqueirinhas e para não fazerem intrigas

Sempre me senti mais segura na companhia de homens do que de mulheres, desde pequena. Não porque eles fossem considerados o sexo forte, mas porque me pareciam mais transparentes. Aquela idéia de as meninas serem mais afetivas não batia com a realidade que eu via no pátio da escola. Na hora do recreio, os meninos eram mais trogloditas em suas brincadeiras, mas era uma brutalidade física passível de defesa. As meninas, por outro lado, eram experts em difamar, excluir, ridicularizar e humilhar certas colegas. Tudo mais sutil, e por vezes mais cruel.

Pois soube agora que foi publicado o resultado de uma pesquisa feita com 5,5 mil meninas entre oito e 15 anos, das mais diversas nacionalidades, e ficou comprovado exatamente isso, que a nossa violência pode ser muito mais danosa do que a suposta violência masculina. Meninos resolvem suas diferenças frente a frente. Meninas são mais calculistas e podem levar meses arquitetando vinganças mesquinhas.

Pesquisas foram feitas para serem questionadas, mas não há dúvida que, generalizando, é isso mesmo: garotinhas são perversas. Ao crescer, muitas recuperam o tino e optam pela franqueza nas relações, mas algumas seguem fiéis à tortura psicológica que impõem aos seus pares. Existe amizade entre mulheres? Existe. Mas basta que antipatizem com uma fulana para o veneno escorrer pelo canto da boca, estragando a maquiagem.

A pesquisa dá exemplos de atitudes que revelam a meiguice fajuta de muitas meninas: a) elas combinam com todas as colegas para isolar uma determinada garota, ninguém mais fala com ela; b) espalham para os meninos da escola que uma garota (logicamente a mais linda e por quem eles estão apaixonados) tem uma doença contagiosa; c) entregam segredos alheios, escrevendo-os na porta do banheiro; d) deixam mensagens na secretária eletrônica tipo "e aí, como foi o resultado do seu teste de gravidez", sabendo que quem vai ouvir primeiro são os pais da garota. Nada disso parece escandaloso, a gente acha normal, coisa de criança. Aliás, essa tal "coisa de criança" é imbatível quando se trata de fazer estragos na auto-estima dos outros.

Não compartilho da idéia de que a maquiavelice faz parte da natureza feminina. Também acreditamos, um dia, que fazia parte da nossa natureza ser apenas mães e donas de casa, felicíssimas da vida no confinamento doméstico, e olhe só como valeu a pena questionar essa nossa "característica natural". Então, que tal uma revolução feminista parte 2? Basta educarmos nossas filhas para não serem fofoqueirinhas, para não fazerem intrigas e para não discriminarem uma menina só porque ela é gorda ou é estrábica ou não tem uma mochila da Kipling. Espera-se apenas que, abdicando das pequenas maldades, elas não comecem a sair no tapa.

- Martha Medeiros - Zero Hora - 14/4/2002

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