Teorema das idéias


- Luiz Augusto Crispim -

- Se você tem um real e eu tenho um real; se eu lhe dou um real e você me dá um real, ao fim e ao cabo, cada um de nós continuará com um real. Nem um pouco mais ricos, nem um pouco mais pobres. Mas se eu tenho uma idéia e você tem outra idéia; se eu lhe dou a minha idéia e você me dá a sua idéia, acabamos ficando cada qual com duas idéias.


    De fato, duplicamos as nossas idéias.

A observação foi-me apresentada por Elias, um amigo que acabo de fazer, cercado de referências e perplexidades a propósito de um mundo cada vez mais difícil de entender.

Na verdade, segundo este seu modo de enxergar as coisas, tornei-me devedor de um aforismo coerente com o que ele acaba de construir para mim. Na hora, não me ocorreu nada inteligente para lhe oferecer. Mas, agora, depois da apropriação do seu princípio, talvez pudesse lhe dizer o seguinte:

- Se eu tenho uma idéia e lhe dou essa idéia, para, em seguida, receber outra idéia de você, se ficamos mais ricos de idéias, sem precisar empobrecer da idéia que já era nossa, por que não repartir esse patrimônio com o resto do mundo? Este, na multiplicidade infinita de suas próprias carências, não terá limite em nos propor uma infinitude de novas e inesgotáveis idéias.

Chego, pois, à conclusão de que a grande questão é a exclusividade do ideário. As pessoas, quando pensam em algo de novo, não querem compartilhar nada com ninguém. São os latifundiários das idéias. Como se fossem ficar mais pobres, se repartindo a fortuna da criação.

Mas ninguém pode ser avarento com as coisas do espírito.

É por isso que não tenho o direito de guardar somente para mim, na caixa-forte da alma, a preciosa lição de Elias. Reparto-a com você, meu caro leitor. Ficamos ainda mais ricos se ela andar se espalhando por aí. É bem capaz dela voltar um dia deste, recriada pelas idéias dos que souberem interpretá-la e imprimir sobre a versão original novas formas de pensar e de dizer.

Aí está o teorema de Elias dizendo muito mais nestes ensaios do que em sua feição de origem. Nem por isso, o seu criador tornou-se mais pobre na hora da partilha.

Sexta-feira, 23 de agosto de 2002

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