F. Pereira da Nóbrega



Jornal Correio da Paraíba, domingo, 05 de outubro de 2003

Violência cultural





    Não só indivíduos, a sociedade, como um todo, produz também.. A cultura é um produto do povo também quando ela se chama violência social. Todos assistimos, em pouquíssimos anos, a essa crescente espiral da violência ma Paraíba.


    Hoje, a cidade teme a cidade. Há gangs organizadas, assaltos contínuos a bancos, residências. Até parece que o povo do morro, no Rio, desceu todo para a periferia paraibana.


    Quando algo é cultural, não se revoga por decreto ou polícia. A educação da criança, a reeducarão do adulto são o caminho. A pior violência é a cultural. É essa que nos vem bater à porta.


    Estou ouvindo, de renomadas autoridades, que não se mexa um só milímetro na sociedade, a ser deixada como está. Basta que se multipliquem policiais e penalidades. Também acho que o bandido precisa ser preso, condenado. O que me espanta é o raciocínio que reduz tudo ao individual.


    Quando se ensina que a pena de morte é a solução, se desconhece a outra vertente, cientifica e largamente comprovada, de que a matriz maior da violência é o social inviável. Ao lado da sociedade oficial, vegeta a outra, dos excluídos. São outros valores, visão da vida. É outra sociedade, paralela, com sua cultura, paralela. E eis a violência cultural.


    O econômico, o político, e segmentos outros, estavam sendo alterados, sim, em favor de um projeto internacional do neoliberalismo. Sejam alterados, antes, em favor de uma sociedade mais humana, menos excludente. Todas as reformas, até hoje ditadas, ignoravam uma sociedade mais justa. Não se pensa em limitar ou tributar riquezas, por exemplo. Mas todos sabem que não limita a miséria quem não limitar a fortuna.


    O social, degradado, de ontem, mais se degenera hoje com o crescente desemprego. Uma nova sociedade se esboça em que haverá trabalhadores mais que trabalho. Não apenas a qualificação profissional fará desempregados. O robô, também. E o desemprego será a regra geral.


    O homem se faz, o bicho nasce feito. É pelo trabalho que o homem se faz. Seria de anjos, de homens não seria uma sociedade de maiorias sem trabalho. Esta violência a uma humanidade que precisa de trabalho, e não acha, resulta numa nova cultura sua: a da violência.


    Agora entendemos por que as balas se perdem no Rio, em João Pessoa se acham.


Envie carta para VINI E JOBIS Essa página foi gerada através do Intervox, mais um utilitário desenvovido pelo PROJETO DOSVOX
Fale com o Webmaster