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Uma vez, no Polo Norte - F. Pereira da Nóbrega |
Uma vez no Polo Norte
Andei mundo, enquanto pude andar. Sabia que um dia a vida ia me parando, como o relógio incerto porque a pilha é fraca. Mas sabia também que por vez o relógio parado marca a hora certa.
Por isso, uma vez, subi toda a Escandinávia para ver o mundo dos Esquimós, nas proximidades do Polo.
Atrás ficaram as cidades e os homens. Atrás ficaram todos os caminhos, Pousada sobre o Polo Norte, só resta agora a cidade de Kíruna.
A ela parece ter-se referido aquele Profeta maior quando há dois milênios disse: “sereis testemunhas de mim no último recanto da Terra”. É Kíruna o último recanto da Terra.
Ultima cidade da Suécia, se estende sobre a calota polar, numa dispersão de casas que mede um diâmetro de mais de 100 quilômetros.
Ao longo do ano disputam nela a noite e o dia um lugar no céu. Em fins de outubro, o sol nasce às 11 da manhã e à 1 da tarde já começa a noite
Em um certo dia de dezembro o sol mergulha no horizonte, dá boa-noite a Kíruna e não volta mais. Uma noite só, de semanas muitas, mostra sempre o mesmo céu, as mesmas estrelas que não caminham de nascente a poente.
Giram paralelas ao horizonte em torno de um ponto luminoso e de aparência imóvel, exatamente no meio do céu. É a Estrela Polar.
O sol anda por outros mundos, pelos nossos, aquecendo o Equador, banhando as praias dos Trópicos.
Enquanto isto, todos os relógios de Kíruna dizem que é meio dia. Meio dia, de noite densa, de luzes acesas, de profusão de estrelas no firmamento.
Um dia recomeça o regresso do sol. Primeiro, um crepúsculo vago nas horas do meio dia. Depois o sol emerge por horas inteiras, caminha sobre a linha do horizonte, se apaga depois.
No mês de junho nasce às 2 da manhã para se pôr as 11 da noite. Até que, um certo dia de verão, brilha no céu o sol da meia noite. Sim, o sol que não mais se põe, que demora semanas seguidas, acima do horizonte, sem uma só noite de permeio.
Isto é Kíruna, onde as leis do mundo parecem dar lugar a outras leis. Isto é Kíruna, pousada sobre a neve, como os passos dos Esquimós.
Quase diria: apenas adeja o mundo sem ser do mundo. Parece mais um bairro de outro Planeta.
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