Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega


F. Pereira Nóbrega A tristeza de Maíra

Na sua bagagem havia direitos, alegria também.

Nesses últimos oito anos viu seu pai como reitor da UFPB. Ouvira, lera seu nome por aí afora, repetidamente. Alguma vez não terá se contido em seu aparte: sou filha dele! Não é qualquer professor que chega a reitor. Nem qualquer reitor que a comunidade escolhe por oito anos. Poucas Maíras no mundo existem para a glória desse aparte.

Na sua bagagem, era também o direito de ir e vir. No exercício de sua profissão, andava por aí afora, catando verdades em migalhas, com elas tecendo paisagens literárias nos jornais.

Mas filha de reitor corre também o risco da insegurança generalizada. Num trocadilho de sílabas, foi sequestro em Manaíra, foi Maíra no bagageiro de seu carro.

Não apenas as sílabas, a ordem social se fez trocada e truncada. Juntamente com a colega de profissão, a jovem é deixada presa no bagageiro. Saem cartões de crédito e tudo o mais que possa ter valor.

Desvio do jornal para minhas filhas os olhos que lêem o ocorrido. Essa filosofia que um dia aprendi me pede refletir, por vez me incomoda demais. Nem sou reitor nem elas são jornalistas. Mas quem periga nesta hora não é a profissão, é o ser humano em geral.

Se eu fosse mendigo, não estaria em risco de seqüestro, de cartões. roubados. Nem estariam em perigo minhas filhas se morassem debaixo das pontes. Então preciso ser menos que gente – miserável! – para ter o privilégio da segurança que ora falta a Deputados, Senadores, Reitores, vultos empresariais.

- Vamos, filhas minhas, vamos para debaixo das pontes. Se elas já são insuficientes para tanta mendicância, o Poder resolve a questão: construirá outras mais. Só assim o problema da Segurança se resolverá.

- Para que nenhuma das minhas Maíras chore o roubo, o seqüestro, o risco do estupro, vamos passar as noites debaixo das maquises, onde o homem é menos fera e os marginais são mais solidários. Nenhum deles nos negará um espaço de pernoite nas madrugadas.

- Vamos que a noite já desceu sobre a sociedade. Enquanto de dia mendigamos, vamos parar junto a carros abandonados. Vamos escutar se de dentro dos bagageiros alguma voz nos chega pedindo socorro.

- Vamos, Maíra, a seqüestrada, repensar a sociedade inteira porque parece que já é final de linha na degradação social. [«]


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