Projeto DOSVOX Terrorismo anônimo - F. Pereira da Nóbrega


F. Pereira Nóbrega


Terrorismo anônimo

Recebi carta anônima e terrorista, se dizendo com força de pensamento positivo, de uma corrente energética que há nove anos percorreria o mundo. Diz-se cópia de um texto, invocando o nome de Santa Edwiges, cujo original estaria numa igreja - não diz de que credo - na Inglaterra, - não diz em que cidade. Afirma: dentro de 4 dias, quem a retiver, receberá desgraça; quem delas divulgar 20 cópias, receberá bens materiais.

Esse crime de terrorismo anônimo é pensamento, sobretudo negativo. Conta as desgraças que teriam acontecido a outros anônimos, sem sobrenome, sem data e local, como a toda mentira convém se apresentar. Vejam: “ Felipe recebeu esta carta e não ligou. Perdeu sua esposa em 6 dias. Carlos recebeu e guardou. Perdeu o emprego. Ardus recebeu a carta e jogou fora. Perdeu tudo o que tinha e morreu depois”. Ninguém sabe quem é Carlos, Filipe ou Ardus.

A carta da Inglaterra teria começado a circular na Venezuela. A Inglaterra estaria lendo este elenco de desgraças, sem fazer cópia nenhuma. Já seria tempo de nem mais figurar no mapa do mapa.

Faço abordagem teológica do caso. Entre o que é desate mundo - físico, natural - e o que é sobrenatural, não há forças intermediárias. Como explicar cientificamente que uma desgraça me acontece porque dentro de 4 dias não escrevi 20 cópias? Por que 4, por que 20? Deste mundo isto não seria.

Menos ainda se podem atribuir tais desgraças a uma ação do Deus único. Nem Javé nem Alá nem mesmo Tupã se apresentaram, fabricando cavilações para pretextos de castigo. O Deus de minha fé não castiga.

Se o homem erra - se fosse erro omitir tais cópias - não castigaria. As tais penalidades eternas, que nossa cultura conhece, encontram fundamento teológico, menos numa ação de Deus, acendendo fogo para queimar alguém, mais no fato de uma consciência infeliz que se pune eternamente, por não se aceitar.

Só no pensamento politeísta, de milênios passados, pode esta carta encontrar acolhida. Porque os deuses eram ditos muitos, alguns até maus, os antigos viam neste mundo forças malignas de além mundo, pondo em tortura e risco o viver humano. Assim, toda superstição é pensamento politeísta. Esta carta é superstição.

Por isso, não apenas omito remetê-la. De público a rasgo. Faço apelo a quantos receberem tais bobagens, igualmente rasgá-las. Castigo? Venha sobre mim se tem mais força do que Deus ou se a Ciência o explicasse. Desafio toda prometida desgraça.


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