Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega


F. Pereira Nóbrega Templos e túmulos

No princípio foi o homo faber, primeiro exemplar da espécie humana. Era um estranho ser que caminhava sozinho sobre a face da Terra. Também sozinho tentou resolver suas necessidades. Não deixou um só traço de civilização.

Vieram, com o dito homo sapiens, o começo da sociabilidade e a primeira onda de civilizações. Quando os homens se uniram para uma obra comum, civilizou-se. E até hoje todo progresso humano resulta das mãos unidas. Todo retrocesso das guerras resulta de mãos contra mãos. Isso não é nada lirismo. São os vestígios da caminhada humana nas pegadas de seus próprios passos.

Quando, pela primeira vez, homens neste Planeta se uniram para uma obra comum, pensaram em templos e túmulos. O gesto é pleno de significação. Não deixaram nada em escritos porque escrita ainda não havia. Deixaram em suas construções o primeiro esboço de um sentido da existência.

Quando os homens se uniram e inventaram a civilização, o gesto não foi apenas de juntas plantarem, juntos colherem. Marx que me perdoe mas, desde o primeiro instante, o homem não foi puramente econômico. Ergueu templos e túmulos. Cultuou os mortos? Então entreviu uma vida após a vida.

Templos e túmulos das primeiras civilizações nos dizem que, desde a aurora dos tempos, o homem, ainda que confusamente, percebeu seu destino final. Deixou em suas construções traços de sua transcendência. Construiu o que não tem sentido se for feito para o hoje apenas. Transcendeu as necessidades materiais, pensou no homem de sempre.

Quando o homem planta ou colhe pensa no hoje. Quando constrói um templo, pensa além de si em todos os homens e no próprio sentido da existência. Não me falem de uma alienação da vida enquanto se constroem templos e túmulos. Também naqueles dias se construíram drenagens e irrigações de povos não alienados. Desde as origens a inaceitação da morte nunca foi alienação da vida.

A terceira onda de civilizações é apenas incipiente, com a tecnologia e a Revolução Industrial. Nela desponta a maior ilusão humana: a de que a tecnologia resolva todos os anseios do homem. Quem desde as origens constrói templos e túmulos sabe que procura o que tecnologia não tem para dar. Em todas as eras, o homem construirá templos e túmulos. Quem teve o uso da razão nunca aceitará o fim da existência. [«]


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