Projeto DOSVOX F. Pereira Nóbrega



Meninos de rua

Quando um deles passa, fecho o bolso. Olho em redor, apresso o passo, sinto-me inseguro.. A sombra deles não toque a minha. Mas quem vê cara não vê coração. A verdade sobre estes pivetes deveria comover qualquer ser humano.

Quem me contou trabalha com eles, por eles. Aquele, o policial o pegou, surrou, arrancou-lhe sangue. Está documentado em fita. Aquela foi estuprada pelo padrasto. O outro leva surra na volta, se não trouxer dinheiro para casa, ainda que roubando. na rua. O traficante o obriga a cheirar cola até se viciar. Daí em diante, roube para comprar mais.

Que iremos fazer com esses que a indiferença humana tornou ferozes? O procurador, em São Paulo, no meio da rua, tanto pisoteou um deles que o matou. Entre nós,, alguém gritou ao Secretário Neroaldo que para eles fez uma escola: “ O Sr,. está gastando dinheiro para fazer bandidos”.

Dezenas deles fugiram de casa. A gente nem tem idéia do que seja isso. Todo adulto tem seu álibi, muda de nome nas metrópoles, interiores, no Exterior.. Têm todos esses o mesmo nome: pivete. Não têm o que mudar nem para onde se mudar. São seres sem família, sem teto, segurança, cidadania, esperança de vida. São todos vida zerada.

Eu, me aproximar de algum, tocar aquele corpo imundo, lhe dar carinho? Quando aquela professora tocou um, ouviu dele a resposta:

Por que você me dá carinho? Ninguém me faz isso! Todos me tratam como bicho. É por isso que eu trato todo mundo também como bicho.

São grãos da humanidade.. Lá dentro sentimentos seus tentam medrar, de esperança, amor, gratidão - vocês nem acreditam – de solidariedade também. Amam quem os ama, voltam a se sentir filhos de quem lhes dispense atenções de pai, de mãe.

A escola de meninos de rua é um sucesso da Secretaria Municipal de Educação. Começou sendo apenas ex-cola. Porque durante uma os alunos não cheiravam a outra. Hoje, através dela, uns setenta meninos vêem o sol nascer, acalentam sonhos, se sentem gente. Alguns regressam a seus lares.

Você talvez espere, ao final deste artigo, que lhe peça uma contribuição para pivetes. Esses, nem o dinheiro os perdeu nem os recuperará. Amor lhes faltou em casa, na rua. O problema do menor é o maior. Guarde seu dinheiro para a ração de seu gato, seu cão. Mas, ao menino de rua que hoje encontrar, dispense ao menos o carinho com que trata seus bichos.


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