F. Pereira da Nóbrega |
Chego da rua. Quero relaxar. Ligo a TV. Ouço o que já me saturei de ouvir.
“O telefone faz...
Quero ser dono de minha casa. Ter a chave da porta não basta. Preciso não estar, a cada instante,
obrigado a fechar portas de televisão. O programa agrada. A propaganda intercalada, repetitiva, imitando
lavagem cerebral, ninguém agüenta mais. Termino fechando propaganda e programa..
“O cachorro faz...”
Se late ou morde, se agua postes, não me interessa o que o cachorro faz. As emissoras de TV são
obrigadas a limitar os minutos de propaganda nos intervalos. O mesmo argumento limite a repetição do
mesmo por semanas seguidas, se é de má qualidade.
E tome “trim, trim, trim” nos ouvidos
Quando estreou o programa de Ratinho, houve fortes reações. Grupos sociais, habituados a programas
mais elitizados, protestavam contra o que chamavam de brega. O argumento se faz mais forte nessa crítica
à propagandas de mau gosto.
“ A vaca faz”...
Ö protesto da elite é portador de uma verdade. Ninguém me diga que minha liberdade está protegida,
porque posso mudar para outro canal. Liberdade nenhuma tem amparo se cada canal pode expor o mau
gosto, o enervante.
“ É trim, é trim”
Haja propaganda, sim. Não foi esse o mundo que escolhemos? Mas dela se exija o que de Ratinho se
reclamou. Se é o mau gosto que vai ao ar, por que, dessa bicharada toda – gato, cachorro, vaca – só o
Ratinho é proibido? O resto tem imunidade tamanha de fazer inveja a deputado. O gato faz”...
Um mínimo de qualidade a propaganda deve ostentar. Seja o cômico, o lírico, o romântico, o telúrico,
tudo o que faz apelo à sensibilidade humana e deixa vontade de rever. Se tudo o que a propaganda ostenta
é o puramente comercial, nem comercial ela consegue ser. De tanto nos enervar, termina sendo anti-
propaganda.
É trim, trim, trim...