Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega



Preço Brasil

Está decretado: este país tem que pagar alto preço pelo que sonhou. E o que sonhou não se sabe exato. Uns o querem desenvolvido. Outros insinuam que o desenvolvimento também tem o preço do abandono dos problemas sociais. Numa palavra: só a desigualdade faria desenvolvimento. Noutras palavras, ainda: Igualdade é atraso, desumanizar é preciso. Ao final deste discurso, douram a pílula: faz-se o bolo agora, será dividido depois. Essa divisão nunca vi.

O pulo no Primeiro Mundo importa numa ciranda de sequelas financeiras que mais parecem círculo vicioso. Fazer capitalismo sem capital significa atraí-lo do Exterior que importa em juros altos aqui, aumento de dívida externa, desprezo das causas sociais, que pedem mais gastos internos.

A Colômbia está dividida em teritórios, nalguns dos quais Governo não entra. A diferença de nós é que aqui os territórios do poder paralelo estão dentro de nossas cidades. Embora ilegal, é território autônomo e intocável o jogo do bicho. O crime organizado tem armas mais potentes, decreta luto no morro, fecha comércio e escola cada vez que um dos seus a polícia mata. Desce, fecha ruas lá em baixo, invade prisões, liberta os seus. São poder paralelo, sim, senhor.

Gritarão: isso nada tem a ver com nosso modelo de desenvolvimento. Só tem. Na favela o Governo não construiu escola, posto de saúde, negou segurança e trabalho. Todo dinheiro do Poder foi desviado para a moeda, atraída, estabilizada. E haja desemprego, também lá em baixo.

Foi quando a droga subiu o morro, ocupou mais de 300 das 600 favelas cariocas. Deu escola, segurnaça, emprego - de traficante de droga. Cito o Rio por ser o caso mais gritante. Mas amostras grátis desta troca do humano pelo financeiro se espalharam por esse país afora.

Turista erra o caminho, sobe o morro, é morto lá em cima. Ali não é mais Brasil. É outro território em que o financiero também é preocupação primeira, no comércio do tóxico. Mais que lá em baixo, deixa cair migalhas do social no chão da ilegalidade. Porque nas adjacências do poder, o chão é legal mais o social não pinga.

Tim Lopes simbolizou o brasileiro, pagando o preço do social esquecido. Subiu o morro para contar o que viu. Não desceu, não contou. Agora se fala de Ministério da Segurança, mais polícia, mais leis. Pouco adiantará. O Brasil escolha: ser segunda Colômbia ou segunda Argentina.


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