Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega




Por que há miseráveis?

Ouvi que o índio era preguiçoso, o negro era incapaz. Tinha que ser escravo. Outros incapazes eram os mendigos, o dono da mercearia falida, o agricultor que não sai de miséria. Assim nasceram e suas naturezas lhes faziam justiça.

Eu não tinha por que duvidar. Ao lado estava o rico, homem capaz, bem sucedido. Seu negócio prosperou, engoliu o do vizinho. Homem assim gerava riquezas, engrandecia o país. Era Prefeito na cidade, Governador no Estado, Senador da República. Riqueza era fruto do trabalho do homem bem dotado. Nunca pobre fora roubado, nunca rico fora ladrão.

Mas veja esse modelo econômico brasileiro até que ponto chegou. Um dia se disse que se faria um bolo da riqueza nacional crescente. Depois, se dividiria com todos. Seguiu-se violenta concentração de renda, talvez a maior neste Planeta. O bolo nunca foi dividido. Nesta hora de desemprego, quem paga é a classe média. Os afortunados passam bem, obrigado.

Você certamente pensa como eu pensava: fome resulta de subdesenvolvimento. Um dia ambos se acabarão. Não é verdade. Quando as 10 indústrias de hoje forem as 1000 de amanhã, os 10 industriais de hoje ainda serão os únicos donos do parque industrial de amanhã. Desenvolvimento vem para alguns, não para o povo. Dei esmolas a miseráveis em Nova Iorque. Não achei um só miserável – simplesmente não os há – na Suécia. Porque lá o regime é socialista e o país cresce para todos.

O capital do mundo está nas mãos de uns 6 países ricos. Se ele fosse todo investido em produção, o mundo não teria dinheiro para comprar. Que fazer então para o capital continuar crescendo, girando? Guerra! – é a resposta deles. Desde a Revolução Industrial, há dois séculos, o mundo vem se desenvolvendo. O número de ricos aumentou pouco, em proporção. Miseráveis tanto aumentaram que de cada 3 homens 2 hoje passam fome.

Exagero? Anos atrás Dom Helder falava numa Segunda Semana das Nações Unidas. Dois representantes de países ricos lhe disseram: “no Ano 2000, a população mundial será de 7 bilhões. É preciso que a humanidade se livre pelo menos de 1 bilhão, idealmente de 1,5 bilhão.” Sustentavam a tese do extermínio em massa.

Pense no mendigo, no comerciante falido, no agricultor que não sai da miséria. Não diga que são preguiçosos, incapazes. Forças ocultas preferem radical desigualdade humana.


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