Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega

F. Pereira Nóbrega Pêsames

Anteontem morreu um amigo meu. Chegou-me a hora de dizer a palavra que vou passando pela vida sem saber pronunciar: pêsames! O que dizem mesmo esse gesto, essa palavra? Dizem de um peso que nos esmaga, desde o primeiro dia. Nascemos para morrer. Olhamos em redor e não encontramos na matéria o menor sinal da menor esperança. Se estou naufragando, me agarro ao que estiver ao meu alcance. Mas quando é a vida inteira que naufraga na morte, a que irei me agarrar, neste mundo material?

Então cresce gigantesco peso sobre todos os ombros mortais. A flor desabrocha e murcha. Não sabe que vai morrer. A ave trina e voa. Também ignora o desastre final. O homem é o único ser deste mundo que sabe que vai morrer. Os astrofísicos dão ao Universo uns 18 bilhões de anos de existência. Toda a história e pré-história humanas, somadas, diante desses bilhões de anos decorridos, são como a pestanejar dos olhos na duração de uma dia.

Então a Evolução me parece sadismo se esperança nenhuma houver para a condição humana. Então grãos de vida se somaram, aflorou a consciência com tempo apenas para se saber mortal e morrer depois!

Anteontem meu amigo morreu. Ponho-me no telefone para aos familiares - dizer o que mesmo? Dizer-lhes que sobre meus ombros alguma coisa me pesa: pêsames! É pouco demais! Que fará o enlutado com palavras ouvidas de confissão de dor? Nada, absolutamente nada. Então, telefone na mão, fico mudo. É assim que vou passando a vida, sem dialogar condolências.

A sociedade está aí, me cobrando a palavra enlutada. Senão, é conduta anti-social. E se eu pronunciar a palavra mágica, feita confissão de meu penar, balança de minha dor, alguma coisa via mudar na interioridade do enlutado? Será que alguém se alivia ao saber que também sobre mim pesa a mesma dor? O sádico, talvez sim. Mas é à humanidade inteira, caso por caso, que costuma ouvir condolências.

Mais que minha ou sua, pesa-me a universal dor de sermos mortais. Dói-me ver que jovens, crianças, aves e flores, somos todos mortais.

Não, uma dor não enxuga a outra. Mas na palavra que digo talvez vá uma profunda confissão da falência humana, universal. Quem tem dá. Quem não tem deseja ao outro o bem que a ambos falta. [«]


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