Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega



Pensamento e armas

Entre Bush e Bin Laden muitas considerações ainda cabem.

O poder não é apenas econômico ou político. Também existe um poder cultural. Civilizações houve, mais fortes, mais longevas, graças à sua cultura.

Talvez a primeira força cultural de um povo esteja no seu alfabeto. Uma nação indígena, que hoje descubramos, sem a invenção do alfabeto, é culturalmente pobre, facilmente vulnerável. A informação passa de um a outro, apenas auricular. Desconhece a informação à distância.

E, de geração a geração, a distância parece insuperável. No seio desta cultura a informação não se gravou nos livros, papiros, nas pedras. O que antepassados aprenderam se perdeu de boca em boca. Como a energia que, enquanto transmitida, se degrada. O passado dos faraós, dos chineses, se tornou inolvidável graças a seus alfabetos. Descoberta a Pedra da Rosetta, 40 séculos começaram a nos falar sobre dinastias perdidas no passado.

O pensamento grego dominou o Mediterrâneo durante séculos. Alexandria, no delta do Nilo, rivalizou com Atenas. Numa e noutra, foi o alfabeto, a biblioteca, a escrita enfim, quem marcou o destaque de um povo sobre os demais.

Mas o alfabeto é apenas embrulho do pensar. Um transmite o saber que o outro produz. A distância da escrita ao pensar é como a do passo na Terra comparado com o vôo à Lua.

A força dos gregos não foi apenas o alfabeto. Roma, com suas armas dominou Atenas. O pensamento do dominador sucumbiu à força do pensar do dominado. Roma teve soldados. Filósofos não teve nenhum. De arma em punho, com legiões na Europa, Ásia e África, os Césares pediram emprestados Sócrates, Platão, Aristóteles para aprenderem a pensar.

Os Estados Unidos repetem hoje a experiência de Roma. Os “marines” americanos estão em toda parte. São a polícia do mundo. Existe algum filósofo americano de destaque? Para o primeiro falta um.

Mas, do outro lado, certo ou errado, existe um pensar. Bin Laden arrebanhou 18 mil árabes dispostos ao suicídio por sua causa. Falou de guerra santa. Engrandeceu o martírio, em nome de Maomé. Mostrou-lhes valores maiores que a própria vida. Isto é pensamento, não são armas. Quanto mais Washington reprime, mais terroristas se formam do lado de lá.

A fraqueza de Bush não está nas armas. Elas representam alfabetizados da escrita, analfabetos do pensar.


Envie carta para Vini Jobis

Assine nosso Livro Nosso Mundo - Página Inicial Cantinho Lilás - Página Inicial Assine a Lista de Atualização de "Nosso Mundo"
Clique abaixo para participar da lista Espiritavox