Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega

F. Pereira Nóbrega


Olimpíadas comparadas

Sempre tem sido assim nas solenidades de abertura de cada Olimpíada. O país anfitrião se apresenta ao mundo, apresentando sua cultura.

Agora foi a Grécia. Estendeu-se através de séculos de seu passado. Contou a história de seu pensamento na mitologia, democracia, geometria, nas artes.

Em vez do tempo, a Rússia se estendeu no espaço. Em 80, eram as Olimpíadas de Moscou. De todas as regiões russas teve lugar o folclore em suas mais lindas experiências: da Sibéria, da Ucrânia, dos Urais.

Em Los Angeles em 84, os Estados Unidos se apresentavam ao mundo Era uma cultura, menos do homem, mais da máquina. O primeiro ato foi a entrada de um homem voador. E foi bem expressivo. Não era o homem conduzindo sua criatura. Era ela que o levava.

Apresentou a quantidade, não a qualidade. Eram 80 pianos tocando. Para quê 80? A qualidade é a produção do homem. A quantidade é a produção da máquina. Aí estão os americanos em tudo apresentando “o maior do mundo”. O maior edifício continua sendo o Empire States. A maior estátua, a da Liberdade.

Esta análise não pôe em confronto capitalismo e comunismo. A abertura das Olimpíadas em Moscou teria sido pobre se tivesse apresentado apenas o que começou a existir depois da Revolução de Lênin. Falo de cultura, experiência humana sedimentada através de séculos. Falo da alma de um povo, em suas expressões culturais. Falo do folclore que caminhou gerações e traz no espetáculo as marcas de seu passado.

Esse erro os States cometeram na sua abertura. Ficaram apenas no século XX, como se não tivessem história nem passado. Houve uma rápida menção à conquista do Oeste. e um momento dos negros, fugaz como o espaço que na sociedade ocupam. Dos índios não apareceu nada.

Nem posso dizer que os brancos se apresentaram. Apresentou-se a civilização da máquina, de um povo movido a botões a serem pressionados.

É então que penso na vez que teremos quando a nossa chegar. Em vez de um homem voador apareça o pedestre retirante, um brasileiro dentre os mais brasileiros. Apareçam índios apresentando o Quarup. Apareça o cangaço na voz de Mulher Rendeira. E o morro desça com a escola de samba que desceu de lá.


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