F. Pereira da Nóbrega

F. Pereira Nóbrega






Jornal Correio da Paraíba, terça-feira, 14 de outubro de 2003


Nuvens e eu





    Sou nos céus da vida uma nuvem que passa.


    Elas fazem sombra sobre si mesmas, como eu quis fazer sobre os que por mim pasceram. Inflei- me no egoísmo, como elas flutuam, infladas.


    Talvez por isso, muitos encontrei, fiz poucas amizades. Também se diz que o sol entrou na nuvem. Eles não se penetram, não se encontram jamais.


    Quando menino imaginei que cada uma carregava um mistério, se mostrava ao mundo para se deixar adivinhar


    Eram sonhos flutuando com o nada dormindo dentro. Quando, de avião, atravessei uma delas, só então acreditei que eram vazias. Sonâmbulas, caminhavam por caminhar.


    Com todos os meus defeitos, sou como as nuvens que passam.


    Sei que não fico e que todas elas passam. Sou também a minha história que se deixa adivinhar.


    Com elas, aprendi o mimetismo de parecer sem ser, conforme as oportunidades. Ao pôr-do-sol, são vistas rubras, continuam alvas.


    Nos momentos da minha ira também se viram relâmpagos, se ouviram trovões, caíram raios.


    Tive meu ponto de mutação ao imitá-las ainda mais.


    Como ventos esfarrapando nuvens, a vida me despedaçou. E depois da tempestade, recolhi meus pedaços. Não me restou o ter da coisa. Só o ser que sou. Só ele me restará.


    Mas tudo me custou lágrimas. Nuvem quando chora é chuva que cai. Quando a vida neblina dor, algo de fecundo restará.


    Então, desejei na vida ser sombra de desamparados.


    Como entre o céu e a terra, a distância é tamanha, assim também entre os ideais de vida e sua realização, sob sistemas econômicos, sociais, políticos, a serem mudados.


    Nuvens formam rebanhos. E a solidariedade me arrebanhou também. Elas se juntam, umas às outras, de mãos dadas, de medo da solidão que embala os espaços.


    Se hoje você vir uma nuvem no céu, se encobre o sol, se esconde a lua, se faz a noite mais noite, se dela luzes se derramam em arco-íris, você a vai adivinhar. Ela conta com imagens suas a minha história que não sei contar.


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