Criança é um ser irrequieto. Desde o seio materno já era assim. Agora salta, pula, sobe em árvores. Como gosta de subir! A mãe já adivinhou que criança parada é anormal. Pergunta-lhe se está doente. Ou lhe dá por castigo exatamente ficar parada. Criança quer passar às coisas seu dinamismo. O menino põe qualquer vareta entre as pernas e sai por aí, brincando de cavalgar. A menina retém seu presente entre as mãos. E nenhuma dessas duas bonecas se queda na imobilidade.

O comércio de brinquedos sabe disso. Carrega na produção dos que se movem: o tremzinho nos trilhos, a boneca que pisca, chora, faz xixi. O japonês exagerou e produziu o Tamagoshi, uma espécie de animal virtual.

Mas, por que meninos não podem ficar parados? Já sei da clássica explicação que se estende até a animais: precisam exercitar o corpo, enquanto se desenvolvem. Sei disso e não me basta.

Por que - pergunte a Galileu - o Universo inteiro se move? Parado mesmo, não existe um só ponto do Cosmos. E não é tributo a desenvolvimento físico, de que a matéria inerte não precisa. Não há planetas estáticos, em torno de sóis estáticos. Galáxias, com seus 100 bilhões de estrelas, também galopam no puro Espaço, ora volvendo em torno de si, ora rumando para onde não se sabe.

Séculos antes de Cristo, Aristóteles, grego, traçava o perfil de Deus: um ser estático, não se move nem é movido. Nada busca porque tudo já tem. Nem perde porque não pode ser diminuído. Não há como mover-se, transformar-se, ser menos, ser mais.

Em plena Idade Média, Tomás de Aquino, um fã de Aristóteles, assim filosofava: se o Universo se faz de seres, uns movidos por outros, na ponta final desse mover-se universal tem que haver algo imóvel. Seria a alavanca do próprio Universo.

Dessas reflexões me distraio para ver 800 trens, diariamente passando por Colônia, Alemanha. Ou quase cem mil carros diários naquele ponto do Oeste americano onde viadutos vários se cruzam, se sobrepondo Ou o aeroporto de Nova Iorque onde um avião decola a cada dois segundos..

Apressados, todos corremos. Carentes, todos procuramos. Nos aeroportos, estações de embarque, nas pistas e nos mares, quem se move se confessa mendigo O Universo inteiro é imploração de mais ser. Até parece que algo maior que o mundo implora, gemendo nas fibras do mundo. [«]

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