F. Pereira da Nóbrega |
Numa coisa ao menos representa o povo. A nossa é uma História movida a medo. No descobrimento, o
escravo temia o branco, o índio temia o invasor. O branco temia ambos.
Pedro I se fez imperador, "antes que algum aventureiro lance mão da coroa". A frase cunhada na
História é o eco do temor. Foi preciso haver Zumbi dos Palmares para haver abolição da escravatura. Foi
preciso o nordestino temer a fome que mata, para, emigrando arrebatar o Acre da Bolívia, construir Brasília,
São Paulo.
Por tudo isso, o político é, culturalmente, um ser movido a medo. Nunca se pretendeu resolver
definitivamente o problema de nossas secas. Mas, no início dos anos 60, o Nordeste estava em evidência,
no mundo inteiro. Stevenson foi o americano que os States mandaram para ver o Nordeste das Ligas
Camponesas. Voltou, dizendo que seria a próxima Cuba do continente. Imediatamente, a Sudene foi criada
pelo medo.
FHC assumiu. Não queria reforma agrária. Extinguiu seu Ministério no primeiro dia. Ficou a reboque do
MST. Fez o que sua convicção não ditava. Movido a medo, nada faria se não existisse MST.
O desemprego não seria tamanho se representasse algum temor aos políticos. E representaria, se
desempregados se organizassem com o MST e seus métodos. Só isto garantiria que a política daquele
Presidente fosse radicalmente outra.
Governo jamais deu a mínima para as secas do Nordeste, Mas quando famintos começaram a se
organizar para os saques - antes feitos desordenadamente - Governo temeu, faminto, correu, apagando o
fogo incipiente.
Neste país, quer fazer História? Faça medo aos políticos.
F. Pereira Nóbrega