Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega



Meus conterrâneos

Há 40 anos atrás, fazia eu, no Exterior, uma pesquisa sobre animais pré-históricos. Numa revista cientifica de então li que na terra onde nasci, Sousa, havia 72 marcas petrificadas de passos de dinossauros. Eles se fizeram presentes numa floresta tropical abundante em lagos, onde hoje fica o sertão. Aquela planície imensa, entre Pombal e Cajazeiras é um natural campo de aviação, construído antes que avião existisse.

O chão plano que ora vemos era leito de águas a se perderem se vista. Ali animais pré-históricos, em rebanhos, vinham beber, se alimentar à sombra da gigantesca floresta, há 120 milhões de anos atrás. Os montes rasteiros de hoje eram então picos de alguns milhares de metros de altura.

Eram menores as espécies que existiram em Sousa, antes que Sousa existisse. Noutras regiões chegava alguma a pesar até 40 toneladas. Já naquele tempo 40+40 eram 80 toneladas de carne viva, de dois em luta, rolando montanha abaixo. Nenhum olho humano chegou a ver tais cenas. Entre o último dinossauro e o primeiro homem medeiam 72 milhões de anos.

Tão distantes de mim no tempo, esses meus conterrâneos, que não conheci, sempre me tomaram de curiosidade. Um deles, o tricerátipo, era um erro de fabricação. Tinha três chifres: um acima de cada olho, o .terceiro acima do nariz. É certo que o tricerátipo nunca beijou a tricerátipa. Os chifres não deixaram. Não se admirem. A sociedade de hoje está cheia de tricerátipos.

A poucos quilômetros dali, quando das escavações do açude de São Gonçalo, se encontraram ossadas pré-históricas. Esta é uma importantíssima região para a Paleontologia. Hoje, sem montanhas gigantescas, sem lagos, sem florestas, só resta o homem que depois de deles nasceu para deles herdar o paraíso animal, hoje quase deserto dos homens. E neste quase deserto, cem milhões de anos depois, morre de fome a inteligência que os animais não tiveram.

Estudando estes vestígios do passado, me apavora a vertigem do tempo passando, consigo tudo levando. Tudo corre, tudo morre. Morrem as montanhas na Terra, morrem as estrelas nas galáxias.

Para onde correm esses rebanhos de séculos, de milênios? Para o Tudo ou para o Nada? E eu, poeira de ser, no turbilhão desse vendaval, eu que viverei se muito, cem anos, passarei também, inexoravelmente.

Dos dinossauros as marcas dos passos ainda estão aí cem milhões de anos depois. De cada um de meus passos nenhum vestígio restará.


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