Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega



Médicos na política

Começam a despontar os candidatos a prefeitos. Como sempre, há considerável incidência de médicos entre eles. Parece não haver uma só cidade de nosso sertão onde não houve um ou mais médicos, eleitos prefeitos.

Há uma relação entre medicina e política, ao menos nos sertões. Facilmente se pode imaginar o fio condutor de uma a outra atividade. Nos sertões a maior parte das doenças procede da fome. E a fome deita raízes numa problemática social de solução política.

O pior da miséria é levar o homem a desacreditar do homem. Facilmente o milionário desacredita de Deus. Seu capital lhe parece bastar. O miserável desacredita de suas possibilidades. Tudo espera de Deus como por milagre. A solução cairia do céu como a chuva que durante anos não cai.

Nos sertões¸ o que chamamos de eleitores são multidões à espera de milagres. O taumaturgo pode ser Antônio Conselheiro, o Padre Cícero do Juazeiro. Podem ser profetas menores como Joaquim de Moura, durante anos miraculando no Poço, perto de São João do Rio do Peixe.

Mas o taumaturgo mais comum é o “doutor”. Medicina é poder. E nos sertões todo poder é milagre. Uma aura de confiança se derrama de cada médico nestes interiores. Basta o “doutor” estar na cidade para ela estar mais confiante.

Se chega o tempo da política, nem precisa o médico querer. O povo já o quis. Diz o provérbio popular: em terra de cego quem tem um olho é rei. No mundo da miséria extrema toda potência parece onipotência. Quem pode o mais poderá o menos. Ele pode curar Então pode ser prefeito. O médico na prefeitura – o sertanejo não diz mas quase pensa assim - é uma teocracia.

O miserável que se sentiu no limiar da morte e foi salvo pela receita do médico jamais terá no comerciante a mesma confiança. Se recuamos mais longe¸ na política dos sertões, mais vemos como os “doutores” de outros tempos se tornaram figuras lendárias, taumaturgos, dominando a política local Assim foi Otacílio Jurema em Cajazeiras, Janduí Carneiro em Pombal. Leão Sampaio em Barbalha, Ceará. Deste contam que o miserável recebia sua receita. e se não encontrava o remédio, dela fazia chá para se curar.

Os senhores médicos podem ser geniais políticos como Juscelino. Mas eu preferiria que o povo acreditasse mais em si próprio. Do contrário temos tudo às avessas. A democracia não é mais o poder que vem do povo.. Seria a convicção popular de que o povo não tem poder algum.


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