Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega



Maré e onda

Nade contra a onda. Contra a maré, esperança não há. Ondas se driblam. Maré enchente é fatalidade.

Uma onda de violência nos invade ruas, quintais. Deixa marcas de sangue por onde passar. Em 98, a violência matou 8.000, só na grande SP. Em 99, já 59 militares foram mortos.

Há uma guerra urbana. deflagrada. matando mais do que nas guerras declaradas. Na tv, nos jornais, surgem Governadores, prometendo mais armas e soldados. Então se pronunciam pena de morte, prisão perpétua e outras coisas mais.

Da pena mortal nem falo mais. Falemos de bem e de mal, quando longevos como a vida. Então, esse bem, dizemos vitalício, como as pensões. Esse mal dizemos perpétuo, como as prisões. Pois, os vitalícios dos bens, de que a sociedade se acumulou, pedem perpétua a pena contra os violentos.

Esses vêem a onda. A maré não enxergam mais. Há 180 mil presos - os que não acharam vaga nas escolas, hospitais. Nem nas prisões superlotadas acham vaga. Fazem levantes, incendeiam prisões, matam outros detentos. E esses surfistas do social, equilibristas das ondas ferozes, propõem prisão perpétua para esses outros.

Se 180.000 desceram aos cárceres. Há 280.000 outros a caminho, enquanto a Justiça é morosa e mandados de prisão, aos milhares, não se cumprem. Nas cadeias do Brasil, há mais gente entrando do que saindo.

E seria prisão perpétua a solução luminosa? Por trás da onda de violência, há responsabilidade pessoal, sim. Há, coletiva também. Nem tudo na vida é escolha. Se a criminalística aponta delitos próprios de classes, certeza nos dá – e científica - de que, de regra, eles têm raízes sociais.

Uns roubam frangos. São a classe baixa, inquilina dos cárceres que transbordam em rebeliões. Outros picham casas, fazem “peguinhas”, queimam índios nas praças, ingerem drogas, roubam para drogar-se. São os filhinhos de papai. Aguardam-nos a impunidade. Se muito, a prisão que se quer perpétua para uns, para esses será especial.

A violência é onda desta maré enchente da sociedade inviável. Se o peixe passa mal porque a água poluiu-se, a solução não é tirar o peixe, é mudar a água. Problemas sociais não se resolvem com polícia. Mudemos a água. Se a sociedade não mudar, a maré enchente continuará.


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