Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega


F. Pereira Nóbrega Luto na OAB

A vida não nos decifra todos os porquês. Vou passando por ela como rampa de lançamento de foguetes. E me pergunto por que sou rampa e não foguete.

Devo ter ensinado a meus alunos o que eu mesmo não sei. Aprenderam a ser foguetes lançados nas escaladas do Espaço enquanto, feliz de vê-los subindo, aqui ficava eu.

O mais gratificante do professor é fazer do aluno um amigo. A escola passa. A amizade fica. Alunos meus foram Governador de Estado, deputados, reitores de Universidade, outras coisas mais. Continuamos amigos.

Tudo isso me foi gratificante. Melhor do que reinar é ser amigo do rei.

Hoje me prendo a um que me foi aluno de Filosofia na UFPB.

Filosofamos juntos. Compartilhamos confidências. Um dia, abri os jornais e li a notícia: o aluno de ontem, amigo de sempre, já era na Paraíba Presidente da OAB. E a rampa se alegrou com o lançamento de seu foguete.

Mais tarde, outra surpresa.

A Paraíba sabe de uma experiência de fé, chamada Catecumenato, que temos conduzido, neste Estado e fora dele. Pois, um dia lá estava aquele aluno de ontem, amigo de sempre. Quem na OAB da Paraíba era dito Presidente, ali, entre centenas de participantes, era apenas um catecûmeno. Ao final, quis prestar depoimento em coluna de jornal sobre aquela sua experiência.

Se muitos o leram, o mais surpreendente poucos ouviram. Foi ele me dizendo, literalmente, ao término daquela experiência de fé: “agora, não tenho medo de morrer”.

Profetizou sem saber.

Parecia prever, para menos de dois anos depois, sua morte e sua coragem de última hora. Anteontem, sem medo de morrer, falecia Arlindo Delgado, Presidente da OAB da Paraíba.

Os que menos refletem verão nisso coincidência ou curiosidade. Há muito mais a se pensar. Para se viver urge coragem. Para morrer, coragem maior. Morrer por morrer, aceitar isso por aceitar, é masoquismo, não é bravura; Porque a morte é a impossibilidade de todas as possibilidades. Dentro desse niquilismo nenhum ser humano cabe como se fosse seu habitat.

Toda coragem é luta por algo depois. Não há coragem de morrer se não se crê num algo depois. Só a fé na Transcendência pode fazer um homem dizer: “agora tenho coragem de morrer”. [«]


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