F. Pereira da Nóbrega








Jornal Correio da Paraíba, domingo, 16 de março de 2003.

Invasão de domicílio




    Soa a campainha. Vou ao portão. O cidadão, bem vestido, me diz que está fazendo pesquisa. Pede permissão, faço-o entrar.


    Daí em diante, a conversa muda. Começa a exibir quinquilharias que quer vender de qualquer modo. A partir desse instante, posso chamar a polícia e entregá-lo. Praticou invasão de domicílio. Autorizei entrar um pesquisador. Vendedor, não.


    Mais que gente, papéis me invadem.


    Uma empresa de marketing me fazia propaganda de sua mala direta. Exibia, orgulhosa, listas de endereços de toda ordem: da agricultura, indústria, comércio, do que eu quisesse. Mostrei minha curiosidade e fiz uma consulta. Resposta: também meu nome estava lá.


    Você quer vender anzol? Ou carne, pipoca, o que imaginar? Procure os profissionais de marketing. Nas mãos deles, nossos endereços.


    Um volume astronômico de papéis o correio diariamente aqui despeja. Não adivinho. Ou vejo tudo ou nada.


    Se nada vejo, relego também uns 10% de papéis importantes.


    Se olho tudo, são mais uns 90% que tenho de ver.


    Meu tempo se fez escravo de quem me oferece, em mala direta, seguros de saúde, de carro, de cartão de crédito.


    Mais impressos me chegam. Sem criatividade, pouco se perde, pouco se cria, tudo se copia. Anunciam:: “é supressa”, “escolha a beira-mar” “ouça o melhor som”. “Sua sorte, chegou”.


    Mais ainda recebo sobre turismo, revista, cartilagem de tubarão, aparelhos de ginástica, bancos mendigando minhas contas, a promoção da loja, o ‘não perca” de cada dia, companhias aéreas, massageadores de todo tipo e como emagrecer mais, envelhecer menos.


    Quero apenas saber como não receber a papelada que não desejei. Quero ter o direito de decidir o que possa entrar em minha casa: não só pessoas, papéis também. Só assim sou dono de meu tempo. Se dele não sou, de alguém sou escravo.


    - Em nome da privacidade, Srs. marketeiros de toda ordem, saibam que estou à procura de outro artigo. Não é de venda, é do Direito mesmo, fazendo estender explicitamente a essa papelada, que me oprime em casa, a proteção da privacidade, já garantida noutros aspectos da vida.


Envie carta para VINI E JOBIS Essa página foi gerada através do Intervox, mais um utilitário desenvovido pelo PROJETO DOSVOX
Fale com o Webmaster