Anda triste a indústria da alegria. Sabemos que alegre e triste são modos de ser, de se sentir, de se encontrar com a vida. Não precisamos de nenhum industrial para sorrir ou chorar.

Quando enfim a inteligência aconteceu no mundo, certamente o homem riu. Só depois chorou.

Porque o novato da existência ainda não se acostumara. Tudo lhe era surpresa, maravilha. Daí, o riso. O bem e o belo estão nas coisas, nos horizontes, nas noites e nos dias, no luar, nas madrugadas, nas flores, no arco-íris. Tudo o que existe já merece espanto. Como enfim aconteceu que isso ou aquilo existisse? Que eu mesmo existisse?

O que existe é bom. A doença é apenas inexistência – da saúde. Assim também a paternidade de que a orfandade é ausência. Ou a visão de que a cegueira é sua falta. O mal é o bem que falta ao bem que existe.

Esse otimismo perante a vida parece contradito pelos noticiários. É que só é notícia o que é raro. Nunca se noticiou que aconteceu lua no céu. Quase toda noite ela está lá. O positivo já não chega ao noticiário porque é a regra geral.

Para rir, existir basta. Não preciso de industrial nenhum para prestar meu culto à existência. Mas os caçadores do lucro estão aí, de tudo fazendo indústria. A escola, o amor aos genitores (dia do pai, da mãe) o carnaval, tudo virou indústria.

Quando o povo anda triste porque o desemprego aumenta, porque na Paraíba um e meio milhão de pessoas passam fome, os industriais do carnaval resolveram vender mais seu produto por esse Brasil afora. E, à margem de nossa cultura, tradições, começaram a montar as micas da vida. Agora é a Micarande.

Mas uma coisa é alegria espontânea, feita festa da cultura brasileira. Outra é a armadilha para faturar de quem se desmotiva para festejos. Anos atrás, prepararam uma micaroa para 250 mil pessoenses. Tiveram prejuízo. Por isso os industrias da alegria estão tristes, enquanto vendem a alegria que não têm. Médico, cura-te a ti mesmo!

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