F. Pereira da Nóbrega



Humanidade e poder

Há uma luta surda entre o poder e a humanidade. Por ele, a globalização, os mercados comuns, no delírio do consumismo. Por ele, a Informática, a cibernética, robôs desempregando gente, a ovelha clonada, a pílula do dia seguinte, a estação orbital, a opinião pública, fabricada em satélites espaciais, descendo sobre a Terra, imitando lavagem cerebral.

Pela humanidade, os direitos humanos, os Prêmios Nobel da Paz, a Anistia Internacional, movimentos ecológicos. Por ela, inspirações religiosas, de diversos credos, apelando para solidariedade, denunciando injustiças sociais, pondo o acento sobre valores menos materiais de vida. Por ela, quantos, gritando no deserto, desejam ver acima de qualquer poder, da ciência e da tecnologia, uma consciência escrupulosa, uma dieta moral.

É apenas isso, para contrabalançar tamanho poder? É isso, sim. e nada mais. Então urge confessar que a humanidade é impotente. Não só para baixar a fome, até para evitar a bomba atômica, para sobreviver no meio de suas invenções, a humanidade é largamente impotente.

O poder a fez impotente. Quem, então, é herdeiro das invenções que navegam no Espaço? Quem, dos átomos dominados que explodem em Hiroshima? Quem, dos genes domados que multiplicam as Dolly? Alguns, apenas alguns, pouquíssimos, raríssimos. Exceções supremas num universo de seis bilhões de mortais! Desses, mais de 90% até hoje não foram a um cinema, não têm a tv, o telefone. Não têm sequer vaga na escola, remédio para a doença, o pão de cada dia.

Eu disse: o poder se constrói contra a humanidade. Só poder equilibra poder. É quando ele, num todo, se harmoniza. Ou quando, em parcelas, se contrapondo, se equilibra. Não há equilíbrio de relações entre o poderoso e o despojado. O sonho, do homem dominando o homem, tem sido miragem permanente. Já se contam 2000 guerras e 5.000 anos de tentativas de sucessivos Estados, querendo fechar na mão o domínio do Planeta.

A relação de forças se desenvolve cada vez mais desigual. É tamanho o desequilíbrio que, no século em que o homem mais inventou, se acha mais desigual do que nos dias da Caverna. De seis bilhões de humanos, não menos de dois, diariamente, choram o pão cotidiano que não bastou.

Ninguém pretende mover greve contra a tecnologia. Contra o mau uso dela, sim. O mais miserável dos humanos vale mais que as invenções da Terra e as naves do Espaço. Poder, sim, mas para humanizar.


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