Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega


F. Pereira Nóbrega Hoje, no Santa Roza

Hoje, no Teatro Santa Roza, a emoção é minha.

Quando a menina enjoa da boneca, ainda a guarda.. E quando a revê, voltam sua infância, aromas daqueles tempos, saudades que nunca passaram.

Meu brinquedo de infância não foi brinquedo nem foi de infância. Conto isso no início de meu livro “Vingança, Não” que hoje sobe ao teatro.

Eu, menino, remexi numa mala velha e encontrei punhal manchado de sangue, roupa ensangüentada onde a bala matou meus antepassados.

Depois que aquele baú se abriu, saíram para mim todas as histórias de meu pai, o dito cangaceiro Chico Pereira, que lutou dos 21 aos 28 anos, querendo fazer justiça pelas próprias mãos.

Como quem busca uma catarse para se aliviar, escrevi “Vingança, Não” preocupado em ir além de uma história de família. Tentei resgatar para o futuro uma cultura nordestina de há muito perimada. Pretendi ainda ir além de um esboço de Antropologia do Nordeste e atingir o homem universal.

Por tudo isso, hoje a noite é minha, a emoção também. Um ator vai ser chamado de Chico Pereira, meu pai. Uma atora vai se dizer Jarda, minha mãe e vai contar aos homens deste século o que viveu e sofreu no início do século passado.

Ela vai se dizer namorada aos 12, noiva aos 13, casada por procuração aos 14, viúva desde os 17 anos.

E haja coração! Para ver e ouvir no palco, meus mortos, como que ressuscitados, falando aos de hoje suas histórias de ontem, haja coração.

Para tanto convido a sociedade pessoense: para ver “Vingança, Não” representado pelo grupo Tenda, dirigido por Geraldo Jorge.

Insistiram, reagi, temrinei vencido, ante uma sugestão O pessoal do teatro estará oferecendo de meu livro nova edição que, antes do espetáculo estarei autografando.

Que este evento artístico resulte noutro maior. Ainda não se escreveu uma história do cangaço. Histórias e estórias se escreveram muitas que mais desserviram à memória do fenômeno. Não se entende bem o peixe se fora da água. Faltaram às histórias do cangaço o habitat cultural que o acompanhou. É preciso se contarem tais historias, resgatando seu momento cultural..

E nesse resgate do passado, se perceberá que o cangaço não foi um fato isolado. Ele se insere numa Antropologia do homem nordestino, somado a nomes outros como Zumbi, Ibiapina.

Hoje a noite é minha. É de quem vier. [«]


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