Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega

F. Pereira Nóbrega


Histórias de eleições

Anos atrás, ela me procurou, contou-me sua história que hoje repito para os incautos em tempos de eleição. Emprego – quem não quer! No sertão de Cajazeiras, hoje como ontem, ter emprego público é como acertar na loteria. Zefinha estava ali, há tempos, técnica de enfermagem, de fome na barriga e diploma na mão. Corria de um a outro, procurando salvar a família da fome e ser útil à sociedade no que sabia fazer.

- Zefinha, você quer um emprego? Basta me entregar seus documentos e votar no meu candidato.

Entregou carteira de identidade, de trabalho, título de eleitor, certidão de casamento. De cada um teria que oferecer o original. A crer nas suas informações, eles seguiriam para a Secretaria de Saúde do Estado.

- “Só uma coisa eu não entrego: a certidão de casamento. O original não entrego, não. Se vocês perderem é como se eu ficasse viúva”.

Desse entregou o xerox. Dos outros, seguiram os originais.

Ia chegando o tempo de eleições. Zefinha foi imediatamente colocada no hospital local. Se a carteira de trabalho não era assinada, ficou recebendo diárias e promessas de nomeação. Vieram as eleições. Alguém, na capital, tomou a iniciativa de lhe devolver o título de eleitor. Vejam bem: apenas o título de eleitor.

Mal passaram as eleições e Zefinha nem como diarista pôde continuar no hospital. O que eles tinham de ganhar já estava ganho: o voto dela. A nomeação nunca veio, os documentos também não. Foi quando me apareceu aquela técnica de enfermagem que eu não conhecera antes. Perguntava-se se eu sabia fazer o milagre de reaver seus documentos.

Neste país eu posso ser preso, mas minha carteira de identidade, não. Posso ser preso como marginal se não tenho condições de me identificar. Ou como vagabundo, se não identifico minha condição de trabalhador. Podem me prender como sonegador de impostos já que não faço a respectiva declaração. Presume-se que não a faço se não tenho o CIC. Afinal das contas, Zefinha podia ser presa porque acreditou em oferta de emprego em tempo de eleições.

- Eleitores de todos os sexos e idades, fiquem atentos a quantas promessas aparecerem. Comprar voto já é crime eleitoral. Retenham seus documentos, repassem o xerox, se muito. . Sejam diaristas, se eles permitem, mas não votem em quem se elege por compra de votos.


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