F. Pereira da Nóbrega









Jornal Correio da Paraíba, Terça-feira, 13 de Agosto de 2002.



Fumar - para quê?




    A Globo exibiu programa sobre o fumo. Gostei.


    Estamos orgulhosos da Lua que pisamos, do computador que inventamos, dos satélites no espaço, banhando a Terra de imagens e de sons. Tão orgulhosos estamos que o passado nos parece lixo.


    Usos e costumes são relativos. Mas há absolutos das culturas, como tais aceitos em todo tempo e lugar. A racionalidade é um deles. Não são racionais o estupro, o seqüestro, a tortura. Por essa via, a sociedade não persiste, o ser humano não se realiza. Isso é irracional.


    Não se provou que a História seja marcha batida do pior para o melhor, do menos para o mais racional. Se o progresso tecnológico se acumula, o outro, ético, é imprevisível. Muitos usos e costumes de nossos dias, prenhes de irracionalidade, seriam fortemente rejeitados por gregos e romanos.


    A humanidade de hoje carrega mais vícios que algumas civilizações antigas. O tabagismo é um deles. Queimam o bolso, os pulmões, objetos, vidas também.


    Se pudéssemos empilhar os bilhões de dólares que o fumo queima anualmente no mundo! E isso ocorre durante fome da humanidade, tamanha como jamais se leu em qualquer outra página da História. Queima também os pulmões, a saúde. As vítimas sabem. Preferem viver menos, viver mal.


    Não faltam relatos de objetos queimados por ponta de cigarro.


    O fogo é também ótimo escravo, péssimo senhor. Toda chama acesa clama por vigilância. Houve incêndios nos fogos de São João? Morreram quantos? A reserva florestal se incendiou? Foi a ponta de cigarro - ouvimos dizer.


    Queimamos também os semelhantes. A fumaça que passa pelos pulmões de um, depois circula pelos de outros. É higiene pouca promiscuidade muita.


    É estupidez, irracionalidade. Imagine um grego ou romano, vendo a fumaça de bilhões de tabagistas, milênios na frente deles. Diriam que a humanidade vai marchando para o pior. Dessa vez, quem assim pensasse não estaria julgando os outros apenas pelo relativismo de costumes de seu tempo.


    A condenação de civilizações passadas a esta, Ocidental, se faria em termos do que existe de mais universal e constante no homem - aquilo que até o define como sua essência: a racionalidade.


    É irracional fumar.


Envie carta para VINI E JOBIS Essa página foi gerada através do Intervox, mais um utilitário desenvovido pelo PROJETO DOSVOX
Fale com o Webmaster