F. Pereira da Nóbrega |
Fumar - para quê?
A Globo exibiu programa sobre o fumo. Gostei.
Estamos orgulhosos da Lua que pisamos, do computador que inventamos, dos satélites no espaço,
banhando a Terra de imagens e de sons. Tão orgulhosos estamos que o passado nos parece lixo.
Usos e costumes são relativos. Mas há absolutos das culturas, como tais aceitos em todo tempo e lugar.
A racionalidade é um deles. Não são racionais o estupro, o seqüestro, a tortura. Por essa via, a sociedade
não persiste, o ser humano não se realiza. Isso é irracional.
Não se provou que a História seja marcha batida do pior para o melhor, do menos para o mais racional.
Se o progresso tecnológico se acumula, o outro, ético, é imprevisível. Muitos usos e costumes de nossos
dias, prenhes de irracionalidade, seriam fortemente rejeitados por gregos e romanos.
A humanidade de hoje carrega mais vícios que algumas civilizações antigas. O tabagismo é um deles.
Queimam o bolso, os pulmões, objetos, vidas também.
Se pudéssemos empilhar os bilhões de dólares que o fumo queima anualmente no mundo! E isso ocorre
durante fome da humanidade, tamanha como jamais se leu em qualquer outra página da História. Queima
também os pulmões, a saúde. As vítimas sabem. Preferem viver menos, viver mal.
Não faltam relatos de objetos queimados por ponta de cigarro.
O fogo é também ótimo escravo, péssimo senhor. Toda chama acesa clama por vigilância. Houve
incêndios nos fogos de São João? Morreram quantos? A reserva florestal se incendiou? Foi a ponta de
cigarro - ouvimos dizer.
Queimamos também os semelhantes. A fumaça que passa pelos pulmões de um, depois circula pelos de
outros. É higiene pouca promiscuidade muita.
É estupidez, irracionalidade. Imagine um grego ou romano, vendo a fumaça de bilhões de tabagistas,
milênios na frente deles. Diriam que a humanidade vai marchando para o pior. Dessa vez, quem assim
pensasse não estaria julgando os outros apenas pelo relativismo de costumes de seu tempo.
A condenação de civilizações passadas a esta, Ocidental, se faria em termos do que existe de mais
universal e constante no homem - aquilo que até o define como sua essência: a racionalidade.
É irracional fumar.