F. Pereira da Nóbrega

Francisco Pereira Nóbrega







Jornal Correio da Paraíba, quarta-feira, 13 de novembro de 2002.

FH, Lula, fome






    Falou o Presidente em declínio. Contestou o programa de Lula contra a fome. Muitos outros também contestam. Com uma diferença que realça: eles discordam sobre os meios de se chegar aos carentes. FH contesta o próprio objetivo: de modo nenhum vale a pena a eles se chegar. Não se chegue, porque fome é coisa da África e da Ásia. No Brasil não haveria famintos senão em casos raros. Só, subalimentados. Fome ou subalimentação, nenhum dos dois problemas se resolve com distinções conceituais.


    No sertão vi criança que a fome, na seca, cegou. Se houvesse um só brasileiro no limiar da morte por inanição, só isso já justifica proporcional e coletiva solidariedade. Quando uma só baleia encalha na praia não se diz que é só uma e não tem importância. Há 40 milhões de brasileiros encalhados na subalimentação. Ninguém chega a ser o faminto da Ásia, da África sem passar pelo estágio anterior do subalimentado.


    Esse caminho permaneça aberto - insiste o iluminado - porque por essa estrada ninguém chega ao fim, talvez ninguém passe. Porque assim pensa, preferiu dar, de mão beijada, o escândalo de 28 bi, a fundos perdidos para Bancos e suas fraudes.


    Há 500 anos esse problema cresce entre nós. Agora mesmo, com a estiagem, temos 4 milhões na PB, comendo cada dia muito menos do que seus organismos precisam. À margem das estradas pontilham mães, de crianças aos braços, mendigando a quem passa. E FH continua sentenciando: se ainda ninguém morreu de fome, como na Ásia, África, isso não merece cuidados governamentais. Mais importante - é ainda o iluminado quem diz - é se cuidar da saúde da moeda, sua inflação, compromissos com o FMI e dimensões outras do capitalismo internacional


    Para subalimentados não há inflação. Suba ou desça, para quem não compra, não vende, apenas mendiga, seu problema é igual. Então as prioridades todas deste iluminado se postam de costas para os que caminham inevitavelmente para a morte por inanição, se o processo que os tange hoje não for sustado ainda na fase atual.


    É assistencialismo - reclama o iluminado. É, sim. Tal programa estaria errado se nisso apenas ficasse. Só a urgência o justifica. Urgente é tudo aquilo que não se fez a tempo. Há 500 anos a fome cresce entre nós e de sério ainda não se fez nada. As elites proíbem. Basta se ouvir o vozerio vindo dos bolsos cheios de dólares, das bocas cheias de caviar. Comparam Lula a Getúlio, Perón, todos os ditadores. Por que, mesmo? Porque teve sensibilidade.


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