F. Pereira da Nóbrega |
O evitável
É inevitável - estou ouvindo.
Inevitáveis, o caminho da modernidade, o ingresso no Primeiro Mundo, o preço a pagar para isso. Ou
tudo seria evitável se quiséssemos o eterno subdesenvolvimento.
Só um detalhe julgo discutível: o preço a pagar poderia ser mais barato. O que nos mandaram pagar foi
de importação sem protecionismo, de desemprego sem limite, de juros ditos “escorchantes”, na eterna
vigília das crises mundiais.
Dito fica, portanto, que nem tudo dessa crise atual, é culpa de FH. Toda opção tem seu preço. Mesmo
assim, nem tudo o exime de culpa. Entre opção e preço – imagine a madame, escolhendo jóias – a
inteligência privilegia o viável. A vaidade, o mais caro. Entre dois FH, o vaidoso e o intelectual, a escolha foi
da vaidade. Porque o preço poderia ser bem mais barato.
Do Real de seu primeiro dia, nada mais hoje restou. Nem sua paridade com o dólar nem frangos a
R$1,00 para os desdentados comerem. Dizem a crítica imparcial da economista e a jornalista Salete Lemos
que a situação financeira do Brasil, com estupendas dívidas externa e interna, é um efeito retardado para
quem o suceder.
O país não está beirando a inadimplência de suas dívidas porque se candidatou a Primeiro Mundo. Está
porque, para tanto, escolheu o preço mais alto.
FH poderia liberar a importação, parcial ou totalmente. Escolheu o mais caro: liberou totalmente.
Mas o grande estadista escolheu o preço mais alto, da balança comercial no vermelho. Preferiu
importar, sem restrições, todas essas quinquilharias que fazem a festa dos camelôs nas feiras das mil e uma
inutilidades. Triplicou a dívida interna, duplicou a externa.
Também, embutido no preço dos juros, estão as falências, concordatas, economia paralisada, Produto
Interno Bruto em declínio, desemprego, desemprego, desemprego.
De tudo isso, alguma parcela seria inevitável. Tamanha assim, não! Continuamos construindo um
capitalismo sem capital, desenvolvimento com capital alheio, monitorado pelo capital alheio, chamado FMI.