Projeto DOSVOX F. Pereira Nóbrega



Estações da vida


    Também a vida tem quatro estações.

A primeira, digamos, é Estação Liberdade. Nasci como uma folha em branco onde nada ainda se registrara. Mais que isso, nasci para escolher o que me desse na cabeça.

Mas não deu na cabeça, deu no coração. Porque começar a escolher é começar a preferir, amar, desprezando o resto que a alternativa ofertava. Amar, portanto, é também perder, não é só ganhar. Havia mil jovens possíveis com quem eu poderia casar-me. Uma escolhi, amei. Perdi 999. O ganho supere a perda. Compense mil uma só amada. Porque vida é qualidade, não é quantidade. Não quero mais anos em minha vida. Quero mais vida em meus anos.

Viver é, assim, um jogo de perdição. Aí já vou chegando à segunda, dita Estação Compromisso. Liberdade é como dinheiro. Ambos quem usou, perdeu. Dinheiro se perde em troca de coisas. Liberdade, em troca de compromissos. Quanto mais os tive, menos livre restei.

Isso não ocorre em instantes falazes, em atos que passam. Cada minuto, sem deserdar meu futuro, herda de meu passado. Porque corrente elétrica é alternativa ou contínua. Mas esta, da vida, me é só contínua. Só assim tem rumo e sentido Então, como projeção do viver, compromisso tenha longevidade.

Todo ele é cobrança, pergunta. Resposta e responsabilidade são termos gêmeos, da etimologia latina que os gerou. Por isso tanto se parecem. À pergunta se segue resposta, como ao compromisso, a responsabilidade. Aí já começou a terceira - Estação Responsabilidade. Continuamente peço resposta sobre questões da vida. Mas isso me pedem muito mais. São vida, sociedade, consciência íntima, num só coro, me dizendo a mesma coisa: não existem atos sem sequelas nem elas sem responsáveis.

Meus atos sobre mim retornam, como o eco de minhas palavras. Aqui já estou chegando ao fim da viagem: Estação Identidade. Na trilha da liberdade perdida, restou-me o chão da vida que meus dias palmilharam, e, nele desenhado a bico de escolhas, meu perfil, identidade.

Não sou o labirinto de uma impressão digital. Sou o que escolhi e amei, meus valores, ideais. Sou a minha historia, razão de minha liberdade consumida, soma de todos os meus atos.

O futuro é promessa. O presente é dádiva, agônico até findar. Só o passado não passa. Eu sou o meu passado. Nasci mil possíveis. Morro, único. Para ser esse único, imolei a liberdade.


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