Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega

F. Pereira Nóbrega



Esses americanos

Eles me lembram certo bom pai de família. Dialoga com todos e em casa não deixa faltar nada. Mas, para além de seu jardim, esse homem é escabroso e a família não sabe. Se algum rumor chega à parentela, ninguém acredita. Não se vai desfazer a imagem do bom pai por uma estória inventada.

Conto um caso real. A esposa de um desses exemplares pais de família o admirava ainda mais quando, na noite da sexta-feira, por volta das 22 horas, ele saía para voltar na madrugada. Pertencia a uma confraria da “Adoração Perpétua do Santíssimo”. Cumpria seu dever, imolando uma noite de seu sono semanal. Na hora da morte, confessou à mulher: aquela adoração era mentira. Era tempo gasto com prostitutas e bacanais.

A verdadeira história dos Estados Unidos, para eles, de estória não passa. Aprendem na escola que são os defensores dos povos livres em toda parte. Só não vejo livres os povos que eles invadem. Essa história tem também sua faceta de “bandeira 2” – como se intitulava aquela novela onde aconteciam as coisas ocultas nas madrugadas.

Não depuseram Pinochet, Castelo Branco, Galtieri, Strossner, Samoza, Batista, e ditadores outros que eles afagaram. Invadem Kwait, Afganistão, Iraque. Não sei se ainda existe alguma republiqueta que não tenha sido coagida por eles de alguma forma que a autodeterminação dos povos jamais avalizará. Somos todos colônias do dólar – a maneira mais sutil de colonizar.

Falam de democracia, com um sotaque religioso, quase. Mas abraçam todas as ditaduras que os abraçarem. Contribuíram assim para a simpatia comunista no mundo. Tanto afagaram a ditadura de Batista que deram vez a Fidel Castro. Tanto privilegiaram a de Samoza que finalmente os sandinistas venceram.

Mas dentro de casa, o americano não acredita que o pai exemplar tenha outra face. Conversei muito com esses americanos. Desacreditavam de conspirações da CIA, depondo governos nas Américas do Sul e Central. Tudo lhes parecia propaganda comunista que eu, ingênuo, aceitava. Eles se olham no espelho da própria casa e imaginam que o pai é, lá fora, o mesmo que conhecem cá. E há muita coisa de positivo na democracia americana.

Para além dali, começa a “bandeira 2”. Um dia o bom pai das “nações livres”, confessará, no leito de morte de seu império, a sua “adoração da meia noite”. A pretexto de democracia, a sede da dominação era a concubina secreta que a CIA ocultava.


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