Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega



Esmola radical

Perguntam-me que faria eu se ganhasse milhões na loteria. É fácil responder se a gente quiser colocar o dinheiro a serviço de si apenas.

Alguém poderá pensar em grandes investimentos industriais, como propriedades dos pobres Esse projeto tem pernas curtas. A concorrência das multinacionais faz duvidoso o futuro de qualquer empresa de lucros vultosos. E precisaria ser vultoso o faturamento de uma empresa que quisesse resolver o problema da fome no mundo.

Alguém, mais ingênuo, lembrará que valha a proposta da fé: a pura esmola. Apresso-me em dizer que esta não é uma proposta da fé Distingamos meios e fim. A proposta religiosa se refere ao fim: superação de toda injustiça social. Por isso, os homens de real vivência religiosa sempre estiveram ao lado dos oprimidos, sob todas as formas de marginalidade de seus tempos: viúvas, leprosos, prostitutas, explorados de toda ordem.

A técnica se ocupa dos meios. O Cristo não foi um técnico. Não pretendeu apresentar um manual de meios para extirpar a exploração do homem pelo homem. Cada cultura apresenta os meios de seu tempo para os problemas que enfrenta. Quando da cultura judaica, outro meio não se conhecia, não se pensava para responder à pobreza senão a esmola.

É solução precária, da urgência – bem sabemos. Mas essa foi a solução da civilização judaica. Não competia aos profetas de Israel escrever manuais de modelos econômicos, quais meios de se atingir a sociedade justa. O Cristo ditou o fim, os homens procurem os meios.

Para resolver o problema da miséria no mundo, o dinheiro é mais insuficiente que necessário.

A grande esmola, a radical, não é dar coisas aos carentes. É fazer deles pessoas, fatores multiplicadores de um processo de conscientização. A grande esmola que tenho para os oprimidos – por mais urgente que lhes seja o pão – é conscientizá-los.

A morte da fome no mundo não se fará pelo pão que se distribui aos pobres nas filas da miséria. Quem assim pensa ainda é contemporâneo de civilizações de milênios atrás. Experiência e reflexão humanas nos ofereceram outros meios, bem mais eficientes.

Não se trata mais de dar o peixe a alguém mas de ensiná-lo a pescar. E se o peixe passa mal porque a água está podre, a solução não é retirar o peixe, é mudar a água. A sociedade é esta água. O peixe é o oprimido. Conscientizemos o povo. Essa é a esmola radical.


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