F. Pereira da Nóbrega |
Jornal Correio da Paraíba, quinta-feira, 09 de outubro de 2003
Escravas brancas
Até parece que não foi o homem, foi a mulher quem primeiro entrou no mundo do trabalho. A
prostituição é uma das mais antigas profissões da humanidade.
Agora se diz que é a terceira mais rentável da Economia brasileira. Três tráficos se juntaram para
circulação de nossa Economia: tráfico de drogas, de armas, de mulheres.
Essa conjunção já nos revela a ponta do novelo. Prostituição, armas e drogas têm um comum
parentesco, chamado prazer. Depois de 26 civilizações diferentes, apareceu-nos a mais singular: a
civilização do prazer.
Civilização sempre houve, prazer também, mas a opção de uma pelo outro, só agora nos chegou
Porque cada uma tem sua opção fundamental, seu valor maior, em referência ao qual toda ela se
organiza.
A civilização romana privilegiou a dominação sobre outros povos. A medieval caminhou na direção
de uma sacralização do profano. Esta nossa, ocidental, firmou o prazer como meta e razão última do
viver. Se sua mola mestra é o capitalismo, dinheiro, para que dinheiro? Para o prazer, evidentemente,
seja o saudável, seja o criminoso. E haja armas, drogas, prostituição.
Dentre os países sul-americanos o Brasil lidera o tráfico de escravas brancas. Elas já são 75 mil no
Exterior. Ouvimos falar de luta contra drogas. Também do Estatuto do desarmamento e dos
contrabandos de armas e drogas, apreendidos.
Da luta contra o tráfico que prostitui quase nada de ouve. Vi, no aeroporto de Orly, em Paris,
quando aquela moça correu de seus acompanhantes, lançou-se nos braços de um soldado e disse que
estava sendo levada á força para a prostituição.
Quando o escândalo pinta os jornais, as reações do poder deixam a desejar. Já antes se divulgava
no Exterior, para conhecimento de turistas, a excelência da prostituição infantil, no Nordeste
sobretudo. E nos vieram severas normas contra turistas que aqui quisessem se aproveitar de
menores.
A medida é hipócrita. Quem deflorou a menor não foi estrangeiro, foi brasileiro mesmo. E
continuará sobrevivendo, via prostituição, haja ou não turistas estrangeiros no Nordeste.
Contra todos os nossos crimes de tráfico, se ouvem, se vêem CPIs. Você já ouviu falar de alguma
delas contra as nossas já 75 mim escravas brancas, embarcadas para o Exterior? Você encontra
alguma explicação para isso?