F. Pereira da Nóbrega


Francisco Pereira Nóbrega








Jornal Correio da Paraíba, quarta-feira, 06 de novembro de 2002.

Desumanidade






    Gosto de repetir: o homem se desumaniza mas um gato não se desgatiza. O felino sabe ser felino. Nem sempre o homem sabe ser humano. Há profissões que desumanizam se seu profissional não tiver cuidado. São assim as que promovem dinheiro e poder. O militar faz do seu poder um serviço ou faz de seu serviço pessoal poder. Por vez o soldado, ontem um Zé Ninguém, faz com seu poder o que o pavão faz com sua cauda: exibição. De alguns, a grande realização é a chance de arbitrariamente dizer: teje preso!


    Pois, semana passada, um profissional do dinheiro fez como algum arrogante soldado. Gerente do Bradesco, nesta capital, disse a Eilton José César de Araújo, há 18 anos ali bancário: teje preso. A cadeia do outro não era confinamento alhures. Era desemprego na hora em que se submetia a uma cirurgia cerebral.


    Quatro dias antes - com um fim de semana no meio - o gerente oferece ao doente a demissão para ser assinada. Não assinou. Porque nunca houve causa para tanto, a razão era patente. Poderiam advir seqüelas permanentes e o Banco estava se recusando a assumir uma invalidez com aposentadoria compulsória. Quando o doente desceu à cirurgia, já sabia que estava demitido, mesmo sem consenso.


    O nome disso é desumanidade. Este Banco não mereceria de nenhum bancário seu respeito, de nenhum cliente a simpatia, se cada um previamente soubesse do que ali se é capaz.


    A fera se solidariza em grupos. Uma não devora a outra. Mas quando o assunto é dinheiro, o bicho homem vira fera, faz de sua rede bancária contributo de extermínio, inventa demissões para fugir a direitos e deveres. E na hora da dor alheia a faz ainda maior.


    - Sr. Gerente, não o conheço. Mas seu ato, sim. Nem conheço o cirurgiado demitido que médicos já garantem capaz de trabalhar. Não me tange apego a amigo ou parente.. Mas gente é gente. Não pode ser discriminada como o dinheiro esquarteja a humanidade. Quando sei que isso algum dia pode acontecer com meus filhos, até com gerentes de Banco, me convenço de que estamos apenas na Pré-história da humanidade.


    - Para a boa imagem do Bradesco, para melhor imagem de quem dirige aquela agência, Sr. Gerente, em nome da sua consciência, do respeito ao outro, da dignidade humana, peça desculpas a essa dor que sua pessoa fez maior. Estenda a mão a quem por 18 anos estendeu a sua ao serviço. O problema dele está resolvido. Ou seu é que não está ou deixará seqüelas irremediáveis.


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