F. Pereira da Nóbrega


quarta-feira, 30 de abril de 2003

F. Pereira Nóbrega

Defesa do consumidor


    Primeiro, nos devoravam, depois nos mexemos. E apareceu a Defesa do Consumidor. Mesmo depois dela, se repete, abundantemente o que antes dela havia.


    Vender, nas sociedades primitivas, não era mais que uma troca de valores. A moeda era um, a coisa vendida era outra. Antes da moeda, coisa por coisa exigia um cálculo mais complexo de valores correspondentes.


    Mas o valor da coisa estava na coisa. Fazia parte de sua identidade. Não podia valer menos para mim, mais para você, menos aqui, mais ali, menos ontem, mais hoje. A coisa era a mesma, para mim e para você, aqui e ali, ontem como hoje.


    Desde a revolução industrial, o Ocidente inventou um novo conceito de venda e o divulgou no mundo todo. Vender não é mais pura troca de valores - de espertezas também. Inventou-se uma arte do bem vender, também sua ciência, chamada marketing. Treinou-se gente para criar necessidades no outro, passar coelho por lebre. São os experts do bem mentir.


    Ainda hoje o consórcio vende o carro que não entrega. O corretor, o terreno que não existe. O comércio, o eletrônico que não funciona. Hoje, não apenas se vendem coisas, consciências também. E quem mais fatura nesses meandros duvidosos por vez tem o reconhecimento social de homem bem sucedido.


    Com séculos de atraso, nos chega a Defesa do Consumidor. Tão importante, eficiente, não sabemos mais viver sem ela.


    Não basta. Devolvo o feijão estragado, o remédio vencido, o frango podre, a falsa grife. Mas a podridão maior me entra de portas adentro e não tenho a quem reclamar se o filho foi sucessivamente proibido de ver a tv das 8, das 7, das 6. Falta uma Defesa do Telespectador.


    A mídia invoca a Constituição para se dizer acima da família e da criança, do sadio e do pornô, acima do bem e do mal. Se diante do pior não temos Defesa, é chupeta de consolação, essa do mal menor. Quem agora está em debate não são coisas deterioradas. São pessoas que a mídia deteriora, dentro dos próprios lares.


    Mas uma notícia boa me chegou. Quis-se introduzir no Congresso um projeto de criação da Defesa do Teleconsumidor. Que ele precisa de defesa é verdade. Mas o projeto arquivou-se.


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