Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega

F. Pereira Nóbrega


Cultura atéia

Não falo do mundo antigo ou medieval. Não falo das civilizações egípcia, meda, persa, judaica, assíria, caldaica, babilônica. Falo de algo que esteve presente em todas elas: o sentimento religioso, a fé num Transcendente. Sempre ofereceram elas ao homem um sentido da existência. Esta última civilização, algum tempo dita, “ocidental e cristã”, difere das outras, não porque seja cristã. De fato é atéia. Difere porque não oferece a seus contemporâneos qualquer sentido da vida.

Digamos que cultura é tudo o que o homem acrescenta à natureza. E muito acrescentou, ao se relacionar com pessoas e coisas. Para tocar a natureza o homem criou uma imensidão de artefatos: da mineração, da agricultura, do extrativismo. Jogou aviões nos céus, barcos nos mares, foguetes no Espaço. Relacionou-se com os semelhantes e jogou no Espaço da História, a Economia, o Direito, as instituições, todas as ciências e artes, toda a ordem, nacional e internacional.

Ainda não disse tudo. Ergueu também templos: sinagogas, mesquitas, pagodes, catedrais. Criou, aos pés do Himalaia, mosteiros para a contemplação. Instituiu ordens religiosas. Ocupou no mundo o espaço sagrado. Achou afinal que as relações com a natureza e com os demais homens precisavam de um ápice de sustentação de que tudo o mais depende. Porque todos esses objetos culturais não estão soltos, a esmo, justapostos. Eles se interligam em sistemas, numa unidade ideológica que afinal é a própria visão do mundo.

E a idéia de Deus sempre pareceu fundamental para arrematar, completar essa visão do mundo. Mas agora é a civilização “ocidental e cristã”. Não enxerga além da troca, da compra e da venda. Vive para lucrar. Para isso relacionou-se com a natureza e a poluiu. Estão mortos peixes e rios. Há manchas de óleo nas águas dos sete mares. Para que o lucro aumentasse, florestas foram devastadas, espécies animais foram extintas. O ar é irrespirável não apenas em Cubatão. Agora o Espaço é sucata de mil artefatos já experimentados. Para que o lucro aumentasse.

Culturas primitivas, fundadas na solidariedade, se esfacelaram. Essa, do lucro, desnaturou a natureza e desumanizou a humanidade. Terminou sendo forçosamente uma cultura atéia. Para a idéia de Deus nela entrar, teríamos que refazer todas as relações do homem consigo e com o universo. Se o centro do tudo é o lucro, Deus é supérfluo.


Envie carta para Vini e Jobis

Assine nosso Livro Nosso Mundo - Página Inicial Cantinho Lilás - Página Inicial Assine a Lista de Atualização de "Nosso Mundo"
Clique abaixo para participar da lista Espiritavox