Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega

F. Pereira Nóbrega


Crianças em risco

Terminou o seqüestro na Rússia. Algumas centenas de crianças foram ali detidas, sob armas de terroristas da Chechênia. O resto sabemos mas um detalhe nos escapa.

Por que tanta comoção mundial em torno de crianças em risco de morte? Por que eram crianças? Por que eram russas? Por que não tinham culpa do que na Chechênia se passa?

Não precisam ser russas as crianças do mundo em risco de vida para merecerem nossa compaixão. Se lá foram centenas, no mundo são milhões. São igualmente crianças, igualmente inocentes, em risco de morte, seqüestradas. Apenas na Rússia o terrorista mostra sua face, assume o terror, morre e mata.

Há um monstro neste Planeta, mais violento, mais covarde. Na Índia, esse monstro de cada 2 crianças leva 1, de cada 6 leva 3, de cada 10 leva 5 – para o cemitério. No Nordeste, a cada 2 minutos este monstro leva uma para a morte. Se isso é pior, muito pior do que entre russos, por que nos postamos indiferentes?

Talvez tenhamos nos acostumado a lamentar a violência quando o violento mostra sua cara. Talvez pensemos espontaneamente que as vítimas da ordem social são algo tão comum quanto a chuva que cai, o vento que passa. Você não acha contra quem protestar se a neblina o molhou. Também não, se uma neblina mortal nega a vida a tantas crianças.

Elas são mais de 30 milhões só no Brasil, sem pais, teto, educação, sem a menor esperança de vida. Garanto que não escolheram. Nem tudo na vida é escolha. Um monstro passou por suas infâncias, jogou-as nas ruas, no crime, prostituição. Isso não é muito pior do que o ocorrido com aquelas poucas centenas de crianças russas?

Vale também na sociologia que não há efeitos sem causas. Alguém é responsável por tantas crianças sem esperanças de teto, de pais, de educação, saúde, de vida até. Quando se identificam os autores, nos indignamos. Assim, quando sabemos de menores em trabalho escravo. Quando autores não aparecem, nossa indignação adormece, abençoando o crime de criminosos anônimos.

Mas eles existem. Ora são governantes, ora donos de grandes fortunas, ora homens de colarinhos brancos. No mundo para cada criança correspondem 36 milhões de dólares destinados a armas. Enxugar a lágrima de uma criança ainda é pouco demais. Urge repensar toda a ordem social.


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