Leia crônicas de F. Pereira da Nóbrega


F. Pereira Nóbrega Crianças perdidas

Nesta última vez, quando Lula falou na ONU, pediu uma cruzada contra a fome no mundo. Depois dele, veio Bush. Pediu mais aliados e mais dinheiro para a guerra do Iraque. São dois ecos, dois rumos que dividem a humanidade. Há Prêmio Nobel da Paz. Da Guerra, não há. Prêmios ela dá, não pede, a quem achar pista deste, daquele, para matar.

Dados da Unicef nos dizem agora a condição das crianças nesta humanidade que optou pela violência.

São 200 mil crianças por ano, 547 por dia, vítimas de guerras e terrorismo. Saem para brincar, de pés descalços, de braços dados. Pisam em terrenos minados. Assim morrem 10 mil por ano. Se escapam, engrossam outros números. Delas há 20 milhões sem pátria, refugiados onde puderam. Há 1 milhão na orfandade. Há crianças sem dedos, sem pernas, sem braços onde infância e guerra se encontraram. E líderes mundiais pedem dinheiro, sempre mais dinheiro – para matar. Uma vez na ONU se aprovou uma cruzada contra a fome. Foram estabelecidas cotas das nações do Primeiro Mundo, durante 20 anos, para essa finalidade. Nenhuma delas cumpriu o que subscreveu. Cada uma foi caindo fora, de mansinho, alegando que causas maiores, mais urgentes, apareceram para as fortunas do Primeiro Mundo. Entre elas estão sempre material bélico a se adquirir, guerra a se enfrentar, pesquisas para armamentos mais sofisticados.

Do conhecimento humano, 80% se elaborou nesses últimos 20 anos. E 20% resultaram da experiência humana desde os dias da Caverna. Então, você vibra com essa marcha humana para o progresso.

Eu, não. Simplesmente porque não vejo progresso. A que serve a tecnologia, suas pesquisas e descobertas? À dominação mundial que grupos de nações disputam. Se excelentes conquistas se fizeram no campo da Saúde, elas custam o preço que somente as elites podem pagar.

Reservo o conceito de progresso para melhores causas. Quando se pretende dizer que uma civilização foi melhor que a outra, a medida comum a ambas é o ser humano. É melhor aquela que mais amparou o homem, sobretudo o fraco.

Que nos faltem televisão e rádio, Internet e celular, luz elétrica, avião e muita coisa mais. Que tudo isso falte às crianças de hoje se o preço a pagarem for andarem no silêncio do dia e na escuridão da noite, ainda de pés descalços e braços dados, sem risco de minas terrestres, de balas perdidas. Que tudo lhes falte se o preço a pagarem for terem pais em casa quando voltarem, pátria em vez de exílio dado a refugiados.

Seguramente a humanidade perdeu o rumo. E o rumo do homem é o próprio homem. Por humanismo nenhum essa humanidade se orienta mais. [«]


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