![]() |
F. Pereira Nóbrega |
Quando palavra é crime
Pensam os simples que crime necessariamente envolve mãos, pés, gestos, talvez o corpo todo. Assim
pensam de tanto ouvirem ser crime roubar, matar. O dicionário que nunca se escreveu, do falar do povo,
não tem o crime da palavra porque lhe parece que todos temos direito de dizer tudo.
Mas há delinqüência verbal. Se violar a propriedade alheia, é comum o consenso de que algo errado
houve e deve ser punido. Na cultura sertaneja é o furto - ao menos era - um dos mais vergonhosos crimes.
Mas o patrimônio de bens de um homem vai além do ter, envolve o ser sobretudo.
Não possuímos coisas apenas, também honradez, credibilidade, vergonha, caráter. E mais perdemos
quando caluniados do que quando roubados. Ainda é possível se recomeçar a vida, a partir da pobreza.
Quando a sociedade não mais crê em nós, rejeição tamanha nos aconselha mudar de nome, desaparecer.
Veja um só exemplo. Serra insinuou - em suas propagandas de destruição de um, mais que de
construção de todos - que é possível haver ligações entre Lula e as Farcs - aqueles grupos guerrilheiros a
serviço da droga na Colômbia.
Serviços de inteligência, vigilância antidrogas, mesmo internacionais, jamais detectaram Lula ou PT
envolvidos em tais crimes. Se esses órgãos ignoram, Serra só saberia mais do que eles, se fosse íntimo das
Facs para guardar segredos tamanhos.
Não é paixão política nenhuma se declarar que Serra é criminoso e seu crime se chama delinqüência
verbal. Lançou mão do alheio, pior do que no furto, dilapidando alguma honradez sem provas para tanto.
Isso deve ser irrelevante para quem preferiu relegar sua consciência a segundo plano e não ter mais
escrúpulos de meios, se justificam seus fins. Como deve ser irrelevante para aquela mão, até hoje
desconhecida, que grampeou Lula, Ciro, Garotinho - só Serra não quis grampear - nessa campanha
eleitoral.
O homem não é o que tem. É o que faz. Roubar é agredir o ter. Caluniar, agredir o ser, é de algum
modo matar. Os que mudaram de nome para sobreviverem, mortos sociais que se fizeram por seus próprios
delitos, ainda pagam pelo que devem. Quando o crime de um homem é ter 65% do eleitorado que o outro
inveja, a calúnia que pretende alvejá-lo mais atinge o povo que seu candidato.
Copyright (c) 2000 -
Núcleo de Computação Eletrônica
- Projeto DOSVOX
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Conectada à INTERNET através da
RedeRio de computadores
Fale com o Webmaster