F. Pereira da Nóbrega

F. Pereira Nóbrega











Jornal Correio da Paraíba, sexta-feira, 15 de novembro de 2002

Convivência




    Era um solitário na ilha. Queria comunicação. Fazia balões, os jogava aos céus. Cada um, uma luz, navegando na escuridão. Era palavra, mensagem, sinal. Dizia a quem o visse que, na solidão da ilha, alguém pedia comunicação.


    Vidas se misturam, não apenas na divisão do trabalho e troca de produção. Palavras são pedaços delas, carregados de sentimentos, experiência, certezas, indagações. Trazemos as marcas, uns dos outros. Um provérbio sentencia: dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és.


    Nem é preciso andar. Até os paralíticos estão nesta. É que as idéias caminham pelos caminhos dos homens. Elas, sombras deles, também se sentam nos bares, correm nas pistas, desfilam nas passarelas. De noite, se apagam as sombras, elas continuam. Na falta do outro, falam comigo até o sono chegar. Depois, se travestem em sonhos e continuam discursando.


    É sobretudo de valores que elas nos falam. As testas passam nas ruas. Passam franzidas, em cada uma, inscrito um ponto de interrogação.


    Nesta era maior do Progresso, é menos de Ciência e Tecnologia que se fala na convivência humana. Nos lares e bares, nas visitas e comemorações, nos caminhos dos homens, muito mais se discute paz e guerra, estupro, homicídio, barriga de aluguel, divórcio e traição. Discute-se o bem e o mal, visão do mundo, concepção de vida.


    Queremos dar sentido à vida. Buscamos padrões éticos de que laboratórios e provetas são pobres para nos dar. Então convivemos, conversamos. Contato é contágio de idéias. Por vez são elas tão contagiosas que filhos esquecem a lição das mães em troca da vida sem dieta moral ou sem um Além, como referencial. Ao berço se sucederam delinqüência e droga .


    A palavra é a força de cada um. Dos fracos, também. As longo da vida, as pessoas se dizem e se redizem. Terminam marcando quem passa e ouve. Mas quando mães não mais se continuam nos filhos, através de valores de vida que lhes passaram, clamam em todas as direções. Imitam o solitário da ilha, jogando aos céus o seu balão. Cada um, uma gota de esperança, pedindo ajuda por onde passar.


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