Vindos da Nasa e da União Européia, por esses dias, dois satélites descem no planeta Marte, para nos mandar imagens e desvendar mistérios.

Vai, robô da Nasa, estafeta da Terra, mostrando Marte ao vivo, nos convidando para lá. Aquele planeta parece monge, despojado no silêncio, virgem do primeiro contato, apostando tudo na espera do amanhã.

Nunca a matéria lembrou tanto o espírito.

Marte é criança. Ainda não adolesceu para gerar a vida. De noite, luz nenhuma cintila na choupana. Não há luz nem choupana. De dia, em galho nenhum passarinho gorjeia. Não há galho, passarinho nem gorjeio.

Ali, nem sequer a lua dorme nos olhos de quem não possa dormir. Não existe lua nem olhos. Em Marte ninguém ainda dormiu. É o silêncio de Deus, se espalhando pelo chão, como se fosse tapete de milênios.

Vai, robô da União Européia, mudando as paisagens, como quem lê páginas para a Terra ouvir. Parecem inscritas em pedras, codificadas em mistérios, como a da Roseta, a do Ingá. É o passado, gritando ao presente, de medo de se perder no passado.

Nossos olhos acompanham tudo, soletrando milênios em monossílabos de tempo, adivinhando mistérios ainda não desvendados.

Entre as pedras mudas, esperando alguém, só milênios passam, sem ninguém passar. Toda estrada erma parece à espera de alguém que nunca chega. Mas a espera maior é a deste planeta que nem caminhos tem.

Ninguém ali riu, ninguém ainda chorou. Na falta de relógios, seus fusos horários ainda não marcaram as horas da alegria, saudade, tristeza, temor. Ali ainda não aconteceu a primeira Eva, por onde começa toda história de amor.

Vai, robô da Nasa, passando páginas, que as quero ler também. Vejo duas pedras, lado a lado, gêmeas no tempo, como se algum destino as houvesse irmanado. Esperam a planta que entre elas ainda não nasceu para abrigá-las.

Duas pedras gêmeas são profetizas do amanhã universal. Marte espera. O mundo inteiro também. Que em todo chão haja vida! Que em toda vida haja aquilo que no mundo até as pedras faz unidas: haja amor!